Quanta felicidade nos termos escolhidos por Alexandre Marino – poeta,
jornalista e publicitário mineiro que vive em BSB desde 1982 – para resgatar o
poder da nomeação das coisas, como se alma elas tivessem. E sopro de existência
também, pois como sublinha, objetos são entidades vivas... e morrem.
Ao poeta é dada a capacidade de retirá-los das prateleiras empoeiradas e
lhes fornecer ânimo para dar curso até a eternidade: “Palavras abandonam seus
corpos em viagens astrais por outros mundos, transmudam-se em silêncio etéreo”.
J.A.R. – H.C.
Alexandre Marino
(n. 1956)
A Alma das Coisas
As coisas têm alma.
Seu nome: palavra.
As coisas têm vida,
princípio e fim.
Se morre um objeto,
seu nome adormece
até que um poeta o
invoque numa prece.
Palavras penadas
aparecem de repente.
Mudam o sentido das
frases, o tom da prosa.
Incorporam coisas,
assustam a gente.
Um silêncio manso
vira rima perigosa.
Palavras abandonam
seus corpos
Em viagens astrais
por outros mundos,
transmudam-se em silêncio
etéreo.
Poetas têm olhos para
o mistério
e ainda que permaneçam
mudos
fazem da palavra o
seu sortilégio.
Migração da Alma
(Freydoon Rassouli:
artista iraniano)
Referência:
MARINO, Alexandre. A alma das coisas.
In: CAGIANO, Ronaldo (Org.). Poetas
mineiros em Brasília. Introdução de Affonso Romano de Sant’Anna. Brasília,
DF: Varanda, 2002. p. 27.
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