Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Mário de Andrade - Eu sou trezentos

Uma falange de 300 homens, um ser heteronímico como Fernando Pessoa, com certo linguajar caipira misturado a outro mais erudito. Um ente com a capacidade de estar em inúmeros lugares ao mesmo tempo, dos Pirineus ao Piauí. Uma multiplicidade de vivências.

Este é Mário de Andrade, o escritor modernista que procurou matizar em seus trabalhos tendências diversas, quer populares – em especial do folclore nacional –, quer oriundas da cultura internacional.

J.A.R. – H.C.

Mário de Andrade
(1893-1945)

Eu sou trezentos
(7-VI-1929)

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.

Família Ronson
(John Allinson: pintor galês)

Referência:

ANDRADE, Mário. Eu sou trezentos. In: __________. Melhores poemas de Mário de Andrade. Seleção de Gilda de Mello e Souza. 7. ed. São Paulo, SP: Global, 2003. p. 99. (Coleção ‘Melhores Poemas’, n. 21)

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