Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 17 de outubro de 2015

José Carlos Capinan - II. Poeta e Realidade (Didática)

Tal como o poeta português Fernando Pessoa, há algo de falso na poesia do também poeta e músico baiano José Carlos Capinan: ele faz a lógica da verdade pelos pontos falsos, assim como Pessoa simula ter a dor que deveras sente.

É como se negasse a negação para chegar a um conteúdo verdadeiro sobre o mundo ou sobre as coisas. Mas a lógica da poesia é mais simples, um claro teorema que emana do “escasso desespero humano”.

J.A.R. – H.C.

José Carlos Capinan
(n. 1941)

II. Poeta e Realidade (Didática)

A poesia é a lógica mais simples.
Isso surpreende
aos que esperam ser um gato
drama maior que o meu sapato
aos que esperam ser o meu sapato
drama tanto mais duro que andar descalço
e ainda aos que pensam não ser meu andar descalço
um modo calmo.

(Maior surpresa terão passado
os que julgam que me engano:
ah não sabem quanto quero o sapato
não sabem quanto trago de humano
nesse desespero escasso.
Não sabem mesmo o que falo
em teorema tão claro.
Como não se cansariam ao me buscar os passos
pois tenho os pés soltos e ando aos saltos
e, se me alcançassem, como se chocariam ao saber que faço
a lógica da verdade pelos pontos falsos.)

O Homem Descalço - Autorretrato
(John Whitton Bria: artista norte-americano)

Referência:

CAPINAN, José Carlos. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (Org.). 26 poetas hoje: antologia. 6. ed. Rio de Janeiro, RJ: Aeroplano Editora, 2007. p. 81-82.

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