Este é um dos poemas mais memoráveis de Stevens e um de seus
derradeiros, escrito alguns meses antes de falecer. Coincidentemente ou não, o poema retrata um homem
meditando, no estágio final da vida, sobre o que, nela, se reveste de alguma importância.
O poeta dá contornos bem definidos à cena fora de sua mente: a palmeira,
o pássaro, o sol, sem liames com significados ou sentimentos humanos. Quase não
há expressões figurativas no poema, com exceção, talvez, da expressão “distância
de bronze” – que, na versão do texto que se considera definitiva, foi
substituída por “bronze decor”, uma possível alusão ao cenário brônzeo onde os
deuses se instalam.
A canção do pássaro não é a razão de nossa felicidade ou infelicidade,
pois há nela um conteúdo “estrangeiro” incognoscível. Ela existe quer os
humanos lhe atribuam algum significado quer não, quer com ela se emocionem quer
não. E como ela, todas as coisas deste mundo, em especial aquelas que são belas
por natureza. Eis aí o mero existir, independentemente dos referentes
linguísticos que a nossa mente busca produzir para tornar as coisas
inteligíveis.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
Of Mere Being
The palm at the end of the mind,
Beyond the last thought, rises
In the bronze distance.
A gold-feathered bird
Sings in the palm, without human meaning,
Without human feeling, a foreign song.
You know then that it is not the reason
That makes us happy or unhappy.
The bird sings. Its feathers shine.
The palm stands on the edge of space.
The wind moves slowly in the branches.
The bird’s fire-fangled feathers dangle down.
Palmeira na Colina
(Lori McNamara: artista
norte-americana)
Da Mera Existência
A palmeira ao final
da mente,
Além da última ideia,
ergue-se
Na distância de bronze.
Um pássaro de plumas
douradas
Canta na palmeira,
sem significado humano,
Sem humano
sentimento, uma canção estrangeira.
Reconheces então que
ela não é a razão
Que nos faz felizes
ou infelizes.
O pássaro canta. Suas
plumas cintilam.
A palmeira se ergue
no limite do espaço.
O vento passa
lentamente por seus ramos.
As plumas do pássaro
pendem faiscantes.
Referência:
STEVENS, Wallace. Of mere being. In: BENAMOU, Michel. Wallace Stevens and the symbolist
imagination. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1972. p.
139.
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