Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Wallace Stevens - Da Mera Existência

Este é um dos poemas mais memoráveis de Stevens e um de seus derradeiros, escrito alguns meses antes de falecer. Coincidentemente ou não, o poema retrata um homem meditando, no estágio final da vida, sobre o que, nela, se reveste de alguma importância.

O poeta dá contornos bem definidos à cena fora de sua mente: a palmeira, o pássaro, o sol, sem liames com significados ou sentimentos humanos. Quase não há expressões figurativas no poema, com exceção, talvez, da expressão “distância de bronze” – que, na versão do texto que se considera definitiva, foi substituída por “bronze decor”, uma possível alusão ao cenário brônzeo onde os deuses se instalam.

A canção do pássaro não é a razão de nossa felicidade ou infelicidade, pois há nela um conteúdo “estrangeiro” incognoscível. Ela existe quer os humanos lhe atribuam algum significado quer não, quer com ela se emocionem quer não. E como ela, todas as coisas deste mundo, em especial aquelas que são belas por natureza. Eis aí o mero existir, independentemente dos referentes linguísticos que a nossa mente busca produzir para tornar as coisas inteligíveis.

J.A.R. – H.C.

Wallace Stevens
(1879-1955)

Of Mere Being

The palm at the end of the mind,
Beyond the last thought, rises
In the bronze distance.

A gold-feathered bird
Sings in the palm, without human meaning,
Without human feeling, a foreign song.

You know then that it is not the reason
That makes us happy or unhappy.
The bird sings. Its feathers shine.

The palm stands on the edge of space.
The wind moves slowly in the branches.
The bird’s fire-fangled feathers dangle down.

Palmeira na Colina
(Lori McNamara: artista norte-americana)

Da Mera Existência

A palmeira ao final da mente,
Além da última ideia, ergue-se
Na distância de bronze.

Um pássaro de plumas douradas
Canta na palmeira, sem significado humano,
Sem humano sentimento, uma canção estrangeira.

Reconheces então que ela não é a razão
Que nos faz felizes ou infelizes.
O pássaro canta. Suas plumas cintilam.

A palmeira se ergue no limite do espaço.
O vento passa lentamente por seus ramos.
As plumas do pássaro pendem faiscantes.

Referência:

STEVENS, Wallace. Of mere being. In: BENAMOU, Michel. Wallace Stevens and the symbolist imagination. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1972. p. 139.

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