Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Cassiano Ricardo - Ladainha

Para os nacionalistas, recolhemos ao espaço deste blog um poema modernista do poeta paulista Cassiano Ricardo, a retratar os fatos, como mais ou menos narrados nos antigos livros de História, acerca do descobrimento deste país, e dos motivos pelos quais o chamaram pelo seu nome atual, Brasil.

Apenas um informe: a palavra “poracé”, derivada do tupi “porasé”, significa o ajuntamento de índios para uma dança folgazã; “anhangás”, por sua vez, segundo os mesmos índios tupis, são os espíritos que vagam pela terra após a morte, atormentando os viventes. Ambos os termos são vocábulos de origem local, que foram incorporados ao português falado no Brasil.

J.A.R. – H.C.

Cassiano Ricardo
(1895-1974)

Ladainha

Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome de ilha de Vera Cruz.
Ilha cheia de graça
Ilha cheia de pássaros
Ilha cheia de luz.

Ilha verde onde havia
mulheres morenas e nuas
anhangás a sonhar com histórias de luas
e cantos bárbaros de pajés em poracés batendo os pés.

Depois mudaram-lhe o nome
pra terra de Santa Cruz.
Terra cheia de graça
Terra cheia de pássaros
Terra cheia de luz.
A grande Terra girassol onde havia guerreiros de tanga e onças ruivas
                          deitadas à sombra das árvores mosqueadas de sol.

Mas como houvesse em abundância
certa madeira cor de sangue cor de brasa
e como o fogo da manhã selvagem
fosse um brasido no carvão noturno da paisagem
e como a Terra fosse de árvores vermelhas
e se houvesse mostrado assaz gentil,
deram-lhe o nome de Brasil.

Brasil cheio de graça
Brasil cheio de pássaros
Brasil cheio de luz.

A Primeira Missa no Brasil
(Victor Meirelles: pintor brasileiro)

Referência:

RICARDO, Cassiano. Ladainha. In: COELHO, Nelly Novaes (org.). Seleta em prosa e verso de Cassiano Ricardo. Rio de janeiro: José Olympio/MEC, 1972. p. 26.

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