Para os nacionalistas, recolhemos ao espaço deste blog um poema
modernista do poeta paulista Cassiano Ricardo, a retratar os fatos, como mais ou
menos narrados nos antigos livros de História, acerca do descobrimento
deste país, e dos motivos pelos quais o chamaram pelo seu nome atual, Brasil.
Apenas um informe: a palavra “poracé”, derivada do tupi “porasé”, significa
o ajuntamento de índios para uma dança folgazã; “anhangás”, por sua vez,
segundo os mesmos índios tupis, são os espíritos que vagam pela terra após a
morte, atormentando os viventes. Ambos os termos são vocábulos de origem local,
que foram incorporados ao português falado no Brasil.
J.A.R. – H.C.
Cassiano Ricardo
(1895-1974)
Ladainha
Por se tratar de uma
ilha deram-lhe o nome de ilha de Vera Cruz.
Ilha cheia de graça
Ilha cheia de
pássaros
Ilha cheia de luz.
Ilha verde onde havia
mulheres morenas e
nuas
anhangás a sonhar com
histórias de luas
e cantos bárbaros de
pajés em poracés batendo os pés.
Depois mudaram-lhe o
nome
pra terra de Santa
Cruz.
Terra cheia de graça
Terra cheia de
pássaros
Terra cheia de luz.
A grande Terra
girassol onde havia guerreiros de tanga e onças ruivas
deitadas à sombra das
árvores mosqueadas de sol.
Mas como houvesse em
abundância
certa madeira cor de
sangue cor de brasa
e como o fogo da
manhã selvagem
fosse um brasido no
carvão noturno da paisagem
e como a Terra fosse
de árvores vermelhas
e se houvesse
mostrado assaz gentil,
deram-lhe o nome de
Brasil.
Brasil cheio de graça
Brasil cheio de
pássaros
Brasil cheio de luz.
A Primeira Missa no Brasil
(Victor Meirelles:
pintor brasileiro)
Referência:
RICARDO, Cassiano. Ladainha. In: COELHO, Nelly Novaes (org.). Seleta em prosa e verso de Cassiano
Ricardo. Rio de janeiro: José Olympio/MEC, 1972. p. 26.
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