Este poema retrata o poeta em plena crise de criação. Ou não: trata-se apenas
de um momento que pode ser caracterizado como uma pausa providencial para
amainar as ideias, fazê-las pulular em sua mente, de tal forma que, no momento
seguinte, ele seja capaz de redigir “mais algumas linhas zelosas”.
Entrementes, ele espia pela janela de seus aposentos e fantasia que a
paisagem que está à sua frente é nada menos que a de algum logradouro da bela capital
da Hungria – Budapeste –, às margens do Danúbio. Logo deduzimos que a
imaginação do poeta não anda nada mal! (rs).
J.A.R. – H.C.
Billy Collins
(n. 1941)
Budapest
My pen moves along the page
like the snout of a strange animal
shaped like a human arm
and dressed in the sleeve of a loose green sweater.
I watch it sniffing the paper ceaselessly,
intent as any forager who has nothing
on its mind but the grubs and insects
that will allow it to live another day.
It wants only to be here tomorrow,
dressed perhaps in the sleeve of a plaid shirt,
nose pressed against the page,
writing a few more dutiful lines
while I gaze out the window and imagine Budapest
or some other city where I have never been.
Budapeste - Ponte Pênsil
(Lorand Sipos: pintor
húngaro)
Budapeste
Minha caneta se move
pela página
como o focinho de um
estranho animal
em forma de braço
humano,
vestido na manga de um
amplo suéter verde.
Eu o observo
farejando o papel sem cessar,
atento como um
forrageador qualquer que nada tem
em mente senão larvas
e insetos
que lhe permitam
viver mais um dia.
Quer apenas estar
aqui amanhã,
vestido, talvez, na
manga de uma camisa xadrez,
nariz enfiado na
página,
escrevendo mais
algumas linhas zelosas
enquanto olho pela
janela e imagino
Budapeste ou qualquer
outra cidade onde nunca estive.
Referência:
COLLINS, Billy. Budapest / Budapeste. In: O’SHEA, José Roberto (Org.). Antologia de poesia norte-americana
contemporânea. Tradução de Maria Lúcia Milléo Martins. Florianópolis, SC:
Ed. da UFSC, 1997. Em inglês: p. 30;
em português: p. 31.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário