Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Gilberto Mendonça Teles - A Casa de Vidro

Que poema inefável, carregado de uma memória que não se deixa extinguir, situado no intercurso que separa o mundo do exprimível em palavras, daquele outro que é absoluto eco em direção à eternidade.

Como tantos que têm origem na pena do goiano Gilberto Mendonça Teles, o poema abaixo ratifica a grandeza de sua poesia, a mesclar discurso aprazível, efeito depurativo do meramente transitório e consciência artística.

J.A.R. – H.C.

Gilberto Mendonça Teles
(n. 1931)

A Casa de Vidro

A Celuta Mendonça Teles

No sonho e na poesia
vai-se elaborando a essência
do que não se perde nem se altera
na língua comum dos homens.

Anterior às circunstâncias,
filtrada de si mesma e seu refúgio,
a imagem não conheceu ainda nem o remorso
nem a fuligem mais precária da vida.

E pode assim surgir na transparência
de uma casa de vidro, onde a figura
real de minha mãe, iluminada,
me sorria e acenava,
                    deslizando-se
pelo perfil das portas invisíveis.

Aí o seu espírito sereno
foi-se igualando à pura densidade
da luz, quando o seu nome, rarefeito,
de repente ecoou no mais extremo,
no sem-fim da fala absoluta.

Mãe e Filho
(Vladimir Volegov: artista russo)

Referência:

TELES, Gilberto Mendonça. A casa de vidro. In: GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 87.

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