Que poema inefável, carregado de uma memória que não se deixa extinguir,
situado no intercurso que separa o mundo do exprimível em palavras, daquele
outro que é absoluto eco em direção à eternidade.
Como tantos que têm origem na pena do goiano Gilberto Mendonça Teles, o
poema abaixo ratifica a grandeza de sua poesia, a mesclar discurso aprazível, efeito
depurativo do meramente transitório e consciência artística.
J.A.R. – H.C.
Gilberto Mendonça Teles
(n. 1931)
A Casa de Vidro
A Celuta Mendonça Teles
No sonho e na poesia
vai-se elaborando a
essência
do que não se perde
nem se altera
na língua comum dos
homens.
Anterior às
circunstâncias,
filtrada de si mesma
e seu refúgio,
a imagem não conheceu
ainda nem o remorso
nem a fuligem mais
precária da vida.
E pode assim surgir
na transparência
de uma casa de vidro,
onde a figura
real de minha mãe,
iluminada,
me sorria e acenava,
deslizando-se
pelo perfil das
portas invisíveis.
Aí o seu espírito
sereno
foi-se igualando à
pura densidade
da luz, quando o seu
nome, rarefeito,
de repente ecoou no
mais extremo,
no sem-fim da fala
absoluta.
Mãe e Filho
(Vladimir Volegov:
artista russo)
Referência:
TELES, Gilberto Mendonça. A casa de
vidro. In: GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia brasileira /
Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago de
Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 87.
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