Em tradução atribuída à escritora e tradutora portuguesa Maria Gabriel
Llansol, vemos aqui um dos mais expressivos poemas do poeta francês Paul
Éluard: trata-se de uma evocação a um amor que já se foi, ou melhor, não por
mera permuta de amantes, mas pelo passamento mesmo da amante.
O poeta recusa a morte da amante e espera compartilhar de sua
imobilidade, por experimentar um sentimento de morte em vida. Viverá doravante,
como bem reconhece, na angústia e no tormento, empertigado pelo silêncio do
poema vivo que não virá a escrever.
J.A.R. – H.C.
Paul Éluard
(1895-1952)
Négation de la Poésie
J’ai pris de toi tout le souci tout le tourment
Que l’on peut prendre
à travers tout à travers rien
Aurais-je pu ne pas
t’aimer
O toi rien que la
gentillesse
Comme une pêche après une autre pêche
Aussi fondantes que
l’été
Tout le souci tout le
tourment
De vivre encore et
d’être absent
D’écrire ce poème
Au lieu du poème
vivant
Que je n’écrirai
jamais
Puisque tu n’es pas
là
Les plus tenus
dessins du feu
Préparent l’incendie
ultime
Les moindres miettes de pain
Suffisent aux mourants
J’ai connu la vertu
vivante
J’ai connu le bien
incarné
Je refuse ta mort mais j’accepte la mienne
Ton ombre qui s’étend
sur moi
Je voudrais en faire
un jardin
L’arc débandé nous
sommes de la même nuit
Et je veux continuer ton immobilité
Et le discours inexistant
Qui commence avec toi
qui finira en moi
Avec moi volontaire
obstiné révolté
Amoureux comme toi
des charmes de la terre.
Duas Vidas
(Nice Ventura:
artista brasileira)
Negação da Poesia
Aliviei-te de
angústias e inquietações, de tudo
O que nos pode
atormentar através de tudo através de nada
Teria eu podido não
te amar a ti
Tu nem que fosse só
pela tua gentileza
Como um pêssego após
outro pêssego
A desfazer-se na boca
como um verão
Toda a angústia todo
o tormento
De continuar vivendo
a ser ausente
E a escrever este
poema
No lugar do poema
vivo
Que não escreverei
Como não estás aqui
comigo
Os mais tênues
esboços do fogo
Preparam o derradeiro
incêndio
As mais pequenas
migalhas de pão
Bastam aos moribundos
Eu conheci a virtude
viva
Eu conheci o bem
tornado corpo
Eu recuso a tua morte
mas aceito a minha
Teria desejado fazer
um jardim
Da sombra que de ti
se estende sobre mim
Repousado o arco
fazemos parte da mesma noite
E eu quero continuar
a imobilidade que agora é tua
O discurso
inexistente
Que começando em ti
acabará em mim
Comigo voluntário
obstinado em revolta
Apaixonada como tu
pela terra-maravilha.
Referências:
Em francês:
ÉLUARD, Paul. Négation de la poésie.
Disponível neste endereço. Acesso em: 02 set. 2015.
Em português:
ÉLUARD, Paul. Negação da poesia.
Tradução de Maria Gabriela Llansol. Disponível neste endereço. Acesso em: 02 set. 2015.
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