Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 27 de setembro de 2015

Paul Éluard - Negação da Poesia

Em tradução atribuída à escritora e tradutora portuguesa Maria Gabriel Llansol, vemos aqui um dos mais expressivos poemas do poeta francês Paul Éluard: trata-se de uma evocação a um amor que já se foi, ou melhor, não por mera permuta de amantes, mas pelo passamento mesmo da amante.

O poeta recusa a morte da amante e espera compartilhar de sua imobilidade, por experimentar um sentimento de morte em vida. Viverá doravante, como bem reconhece, na angústia e no tormento, empertigado pelo silêncio do poema vivo que não virá a escrever.

J.A.R. – H.C.

Paul Éluard
(1895-1952)

Négation de la Poésie

J’ai pris de toi tout le souci tout le tourment
Que l’on peut prendre à travers tout à travers rien
Aurais-je pu ne pas t’aimer
O toi rien que la gentillesse
Comme une pêche après une autre pêche
Aussi fondantes que l’été

Tout le souci tout le tourment
De vivre encore et d’être absent
D’écrire ce poème

Au lieu du poème vivant
Que je n’écrirai jamais
Puisque tu n’es pas là

Les plus tenus dessins du feu
Préparent l’incendie ultime
Les moindres miettes de pain
Suffisent aux mourants

J’ai connu la vertu vivante
J’ai connu le bien incarné
Je refuse ta mort mais j’accepte la mienne
Ton ombre qui s’étend sur moi
Je voudrais en faire un jardin

L’arc débandé nous sommes de la même nuit
Et je veux continuer ton immobilité
Et le discours inexistant
Qui commence avec toi qui finira en moi
Avec moi volontaire obstiné révolté
Amoureux comme toi des charmes de la terre.

Duas Vidas
(Nice Ventura: artista brasileira)

Negação da Poesia

Aliviei-te de angústias e inquietações, de tudo
O que nos pode atormentar através de tudo através de nada
Teria eu podido não te amar a ti
Tu nem que fosse só pela tua gentileza
Como um pêssego após outro pêssego
A desfazer-se na boca como um verão

Toda a angústia todo o tormento
De continuar vivendo a ser ausente
E a escrever este poema

No lugar do poema vivo
Que não escreverei
Como não estás aqui comigo

Os mais tênues esboços do fogo
Preparam o derradeiro incêndio
As mais pequenas migalhas de pão
Bastam aos moribundos

Eu conheci a virtude viva
Eu conheci o bem tornado corpo
Eu recuso a tua morte mas aceito a minha
Teria desejado fazer um jardim
Da sombra que de ti se estende sobre mim

Repousado o arco fazemos parte da mesma noite
E eu quero continuar a imobilidade que agora é tua
O discurso inexistente
Que começando em ti acabará em mim
Comigo voluntário obstinado em revolta
Apaixonada como tu pela terra-maravilha.

Referências:

Em francês:

ÉLUARD, Paul. Négation de la poésie. Disponível neste endereço. Acesso em: 02 set. 2015.

Em português:

ÉLUARD, Paul. Negação da poesia. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Disponível neste endereço. Acesso em: 02 set. 2015.

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