O que é seria um dia no espaço da eternidade? Nada, certamente. Mas na
sucessão de dias, existimos, perduramos finitamente, até que a flecha que
atravessa o tempo põe termo ao movimento que demarca os limites do ser.
Nesse fluxo, ainda bem aquém desses limites, há dias em que passamos num
vazio, dias que, embora nos contemplem em toda a nossa organicidade, divisam matéria
inerte e desabitada, sem nome e sem individualidade: momentos em que nada
somos, embora existamos, diria o poeta.
J.A.R. – H.C.
Octavio Paz
(1914-1998)
¿De qué cielo caído,
Oh insólito,
Inmóvil solitario en
la ola del tiempo?
Eres la duración,
El tiempo que madura
En un instante
enorme, diáfano:
Flecha en el aire,
Blanco embelesado
Y espacio sin memoria
ya de flecha.
Día hecho de tiempo y
de vacío:
Me deshabitas, borras
Mi nombre y lo que
soy,
Llenándome de ti:
luz, nada.
Y floto, ya sin mí,
pura existencia.
Evolução
(Nancy Wait: artista
norte-americana)
Dia
De que céu caído,
oh insólito,
imóvel solitário na
onda do tempo?
És a duração,
o tempo que amadurece
num instante enorme,
diáfano:
flecha no ar,
branco embelezado
e espaço já sem
memória da flecha.
Dia feito de tempo e
de vazio:
desabitas-me, apagas
meu nome e o que sou,
enchendo-me de ti:
luz, nada.
E flutuo, já sem mim,
pura existência.
Em: “Liberdade sob Palavra” (1935-1957)
Referência:
Em espanhol:
PAZ, Octavio. Día. Disponível neste
endereço. Acesso em: 21 ago 2015.
Em português:
PAZ, Octavio. Dia. In: __________. Antologia poética: 1935-1975.
Organização e tradução de Luis Pignatelli. 2. ed. Lisboa, PT: Publicações Dom
Quixote, 1998. p. 16.
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