Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Octavio Paz - Dia

O que é seria um dia no espaço da eternidade? Nada, certamente. Mas na sucessão de dias, existimos, perduramos finitamente, até que a flecha que atravessa o tempo põe termo ao movimento que demarca os limites do ser.

Nesse fluxo, ainda bem aquém desses limites, há dias em que passamos num vazio, dias que, embora nos contemplem em toda a nossa organicidade, divisam matéria inerte e desabitada, sem nome e sem individualidade: momentos em que nada somos, embora existamos, diria o poeta.

J.A.R. – H.C.

Octavio Paz
(1914-1998)


¿De qué cielo caído,
Oh insólito,
Inmóvil solitario en la ola del tiempo?
Eres la duración,
El tiempo que madura
En un instante enorme, diáfano:
Flecha en el aire,
Blanco embelesado
Y espacio sin memoria ya de flecha.
Día hecho de tiempo y de vacío:
Me deshabitas, borras
Mi nombre y lo que soy,
Llenándome de ti: luz, nada.

Y floto, ya sin mí, pura existencia.

Evolução
(Nancy Wait: artista norte-americana)

Dia

De que céu caído,
oh insólito,
imóvel solitário na onda do tempo?
És a duração,
o tempo que amadurece
num instante enorme, diáfano:
flecha no ar,
branco embelezado
e espaço já sem memória da flecha.
Dia feito de tempo e de vazio:
desabitas-me, apagas
meu nome e o que sou,
enchendo-me de ti: luz, nada.

E flutuo, já sem mim, pura existência.

Em: “Liberdade sob Palavra” (1935-1957)

Referência:

Em espanhol:

PAZ, Octavio. Día. Disponível neste endereço. Acesso em: 21 ago 2015.

Em português:

PAZ, Octavio. Dia. In: __________. Antologia poética: 1935-1975. Organização e tradução de Luis Pignatelli. 2. ed. Lisboa, PT: Publicações Dom Quixote, 1998. p. 16.

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