Neste belo exemplar da poesia contemporânea espanhola, de autoria da
poetisa Celina de Sampedro, retrata-se um monólogo de uma futura mãe com a
criança por vir, ainda em sua bolsa amniótica, uma criança que a supor pelo
gênero empregado pela autora, será do sexo feminino.
O poema torna explícito o desejo da mulher em ter a criança em seus
braços, embora faltem alguns dias ou meses até o seu nascimento. Supõe-na com
os olhos cor de anil e cabelos iguais aos seus. E projeta, ainda que
mentalmente, os seus braços no interior do berço temporário, feito de uma terra
cujo nome é o líquido que a envolve, sob a forma de raízes que ali se infiltram
mais e mais.
J.A.R. – H.C.
Celina de Sampedro
(n. 1926)
Soy Monólogo
Toda yo soy monólogo,
toda estallido mágico
al querer yo pensarte,
adivinarte,
anticiparme al tiempo
de tu tiempo.
Te rimo en ese campo
que ante mí se distiende,
contemplas la mimosa
de perfume amarillo
que el árbol dona al
aire
hasta ahora inodoro.
Mi monólogo crece,
crece mi fantasia,
creces tú protegida
por tu colchón amniótico.
Ojos de cuarzo añil...
EI pelo de tu madre:
seda tejida a fuego.
El perro que olfatea
un prodígio inmediato.
La luz que hace que
el valle cante sus propios verdes.
Alargo mis raíces en
la tierra del agua
para crecer mis brazos,
tan exangües,
brazos que fueron
cuna de tu cuna.
Mulher Grávida
(Helene Knoop: pintora
norueguesa)
Sou Monólogo
Sou toda monólogo,
toda estrépito mágico
ao querer pensar-te,
adivinhar-te
antecipar-me ao tempo
de teu tempo.
Rimo-te nesse campo
que ante mim se distende,
contemplas a mimosa
de perfume amarelo
que a árvore doa ao
ar
até há pouco inodoro.
Meu monólogo cresce,
cresce minha fantasia,
cresces tu protegida
por tua bolsa amniótica.
Olhos de quartzo
índigo...
O cabelo de tua mãe: seda
tecida a fogo.
O cão que fareja um
prodígio imediato.
A luz que faz o vale
cantar seus próprios verdes.
Prolongo minhas
raízes na terra d’água
para crescer meus
braços, tão exangues,
braços que foram
berço de teu berço.
Referência:
DE SAMPEDRO, Celina. Soy monólogo. In: ZELADA,
Leo (Compilador). Poesía española
contemporánea: poéticas desde la postmodernidad. Lima (PE): Lord Byron
Ediciones, 2005. p. 64. Disponível neste
endereço. Acesso em: 18 ago. 2015.
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