Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 5 de setembro de 2015

Federico García Lorca - A Lua Assoma

Da seção “Canciones de Luna”, da coletânea “Canciones” (1921-1924), o poema “La Luna Asoma” (“A Lua Assoma”) é uma daquelas criações de Lorca que permitem ao leitor múltiplas interpretações, algumas até com conteúdo nitidamente sensual. Em sua essência, o poema evoca solidão, admiração, luxúria e desejo.

A noite é o ambiente preferencial da lua: no seu intercurso, as sendas passam a ser impenetráveis e é quando as emoções ficam à flor da pele. As pessoas então se expõem à sua influência: não se comem laranjas – redondas e douradas como o sol –, mas algo mais frio e verde, para se entrar em sintonia com as gélidas trevas do isolamento.

A estrofe de encerramento é ao mesmo tempo fantástica e surrealista: movidos pela lua crescente, em meio ao temor e à insegurança, reforçamos o apelo à moeda que se aninha no fundo de nossos bolsos.

J.A.R. – H.C.

Federico García Lorca
(1898-1936)

La Luna Asoma

Cuando sale la luna
se pierden las campanas
y aparecen las sendas
impenetrables.

Cuando sale la luna,
el mar cubre la tierra
y el corazón se siente
isla en el infinito.

Nadie come naranjas
bajo la luna llena.
Es preciso comer
fruta verde y helada.

Cuando sale la luna
de cien rostros iguales,
la moneda de plata
solloza en el bolsillo.

Paisagem com feixes
de trigo e subida da lua
(Vincent van Gogh: pintor holandês)

A Lua Assoma

Quando sai a lua
perdem-se os sinos
e aparecem as sendas
impenetráveis.

Quando sai a lua,
o mar cobre a terra
e o coração se sente
ilha no infinito.

Ninguém come laranjas
sob a lua cheia.
É preciso comer
fruta verde e gelada.

Quando sai a lua
de cem rostos iguais,
a moeda de prata
soluça no bolso.

Referência:

LORCA, Federico García. La luna asoma / A lua assoma. In: __________. Obra poética completa. Tradução de William Agel de Melo. Brasília (DF): Ed. da UnB; Martins Fontes, 1989. Em espanhol: p. 312; em português: p. 313.

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