Da seção “Canciones de Luna”, da coletânea “Canciones” (1921-1924), o poema “La Luna
Asoma” (“A Lua Assoma”) é uma daquelas criações de Lorca que permitem ao
leitor múltiplas interpretações, algumas até com conteúdo nitidamente sensual. Em
sua essência, o poema evoca solidão, admiração, luxúria e desejo.
A noite é o ambiente preferencial da lua: no seu intercurso, as sendas
passam a ser impenetráveis e é quando as emoções ficam à flor da pele. As
pessoas então se expõem à sua influência: não se comem laranjas – redondas e
douradas como o sol –, mas algo mais frio e verde, para se entrar em sintonia
com as gélidas trevas do isolamento.
A estrofe de encerramento é ao mesmo tempo fantástica e surrealista:
movidos pela lua crescente, em meio ao temor e à insegurança, reforçamos o
apelo à moeda que se aninha no fundo de nossos bolsos.
J.A.R. – H.C.
Federico García Lorca
(1898-1936)
La Luna Asoma
Cuando sale la luna
se pierden las
campanas
y aparecen las sendas
impenetrables.
Cuando sale la luna,
el mar cubre la
tierra
y el corazón se
siente
isla en el infinito.
Nadie come naranjas
bajo la luna llena.
Es preciso comer
fruta verde y helada.
Cuando sale la luna
de cien rostros
iguales,
la moneda de plata
solloza en el
bolsillo.
Paisagem com feixes
de trigo e subida da lua
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
A Lua Assoma
Quando sai a lua
perdem-se os sinos
e aparecem as sendas
impenetráveis.
Quando sai a lua,
o mar cobre a terra
e o coração se sente
ilha no infinito.
Ninguém come laranjas
sob a lua cheia.
É preciso comer
fruta verde e gelada.
Quando sai a lua
de cem rostos iguais,
a moeda de prata
soluça no bolso.
Referência:
LORCA, Federico García. La luna asoma
/ A lua assoma. In: __________. Obra
poética completa. Tradução de William Agel de Melo. Brasília (DF): Ed. da
UnB; Martins Fontes, 1989. Em espanhol: p. 312; em português: p. 313.
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