Temos aqui mais um poema do poeta norte-americano Hart Crane, denominado
“Paraphrase” (“Paráfrase”), a descrever o ato de se acordar no meio da noite e
descobrir, inesperadamente, um sopro vital a operar nos interstícios do
dinamismo do próprio corpo.
É o embate entre o consciente e o inconsciente, coisas que circulam em
sonhos que não deixam de perdurar no espírito. Sobre elas, formulamos
interpretações, escólios, glosas capazes de orientar-nos no mundo de vigília,
autênticas paráfrases de influxos que circulam do sonho à vida desperta e
vice-versa.
J.A.R. – H.C.
Hart Crane
(1899-1932)
Paraphrase
Of a steady winking beat between
Systole, diastole spokes-of-a-wheel
One rushing from the bed at night
May find the record wedged in his soul.
Above the feet the clever sheets
Lie guard upon the integers of life:
For what skims in between uncurls the toe,
Involves the hands in purposeless repose.
But from its bracket how can the tongue tell
When systematic morn shall sometime flood
The pillow − how desperate is the light
That shall not rouse, how faint the crow’s cavil
As, when stunned in that antarctic blaze,
Your head, unrocking to a pulse, already
Hallowed by air, posts a white paraphrase
Among bruised roses on the papered wall.
From: “White
Buildings” (1926)
O Tepidário
(Lawrence
Alma-Tadema: pintor holandês)
Paráfrase
De uma regular e
intermitente batida entre
Sístole, diástole
raios-de-uma-roda
Alguém que salta para
fora do leito à noite
Pode encontrar o
diagrama gravado em sua alma.
Por cima dos pés os lustrosos
lençóis
Deitam guarda sobre
os inteiros da vida:
Pois o que desliza em ondas por entre
os dedos dos pés,
Envolve as mãos em despropositado
repouso.
Mas de seu suporte
como pode a língua dizer
Quando a sistemática
manhã certo dia há de inundar
O travesseiro – quão
desesperada é a luz
Que não despertará, além
de indistinto o ardil do corvo.
Idem, quando atônita
naquela antártica chama,
Sua cabeça, hirta a
um pulso, já
Consagrada pelo ar,
afixa uma branca paráfrase
Entre as rosas maltratadas
na parede forrada.
De: “Edifícios Brancos” (1926)
Referência:
CRANE, Hart. Parphrase. In: AIKEN, Conrad (Ed.). Twentieth-century american poetry. New York (NY): The Modern
Library - Random House Inc., 1944. p. 339.
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