Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 13 de setembro de 2015

Hart Crane - Paráfrase

Temos aqui mais um poema do poeta norte-americano Hart Crane, denominado “Paraphrase” (“Paráfrase”), a descrever o ato de se acordar no meio da noite e descobrir, inesperadamente, um sopro vital a operar nos interstícios do dinamismo do próprio corpo.

É o embate entre o consciente e o inconsciente, coisas que circulam em sonhos que não deixam de perdurar no espírito. Sobre elas, formulamos interpretações, escólios, glosas capazes de orientar-nos no mundo de vigília, autênticas paráfrases de influxos que circulam do sonho à vida desperta e vice-versa.

J.A.R. – H.C.

Hart Crane
(1899-1932)

Paraphrase

Of a steady winking beat between
Systole, diastole spokes-of-a-wheel
One rushing from the bed at night
May find the record wedged in his soul.

Above the feet the clever sheets
Lie guard upon the integers of life:
For what skims in between uncurls the toe,
Involves the hands in purposeless repose.

But from its bracket how can the tongue tell
When systematic morn shall sometime flood
The pillow − how desperate is the light
That shall not rouse, how faint the crow’s cavil

As, when stunned in that antarctic blaze,
Your head, unrocking to a pulse, already
Hallowed by air, posts a white paraphrase
Among bruised roses on the papered wall.

From: “White Buildings” (1926)

O Tepidário
(Lawrence Alma-Tadema: pintor holandês)

Paráfrase

De uma regular e intermitente batida entre
Sístole, diástole raios-de-uma-roda
Alguém que salta para fora do leito à noite
Pode encontrar o diagrama gravado em sua alma.

Por cima dos pés os lustrosos lençóis
Deitam guarda sobre os inteiros da vida:
Pois o que desliza em ondas por entre os dedos dos pés,
Envolve as mãos em despropositado repouso.

Mas de seu suporte como pode a língua dizer
Quando a sistemática manhã certo dia há de inundar
O travesseiro – quão desesperada é a luz
Que não despertará, além de indistinto o ardil do corvo.

Idem, quando atônita naquela antártica chama,
Sua cabeça, hirta a um pulso, já
Consagrada pelo ar, afixa uma branca paráfrase
Entre as rosas maltratadas na parede forrada.

De: “Edifícios Brancos” (1926)

Referência:

CRANE, Hart. Parphrase. In: AIKEN, Conrad (Ed.). Twentieth-century american poetry. New York (NY): The Modern Library - Random House Inc., 1944. p. 339.

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