Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 26 de setembro de 2015

Lêdo Ivo - Soneto do Empinador de Papagaio

Nos moldes rígidos de um soneto, topamos aqui com o poeta Lêdo Ivo bem distante dos cânones modernistas que tanto cultuou. Mas apesar da forma fixa do poema, já somos capazes de perceber as remissões a um mundo de liberdades que se concentram na figura de um empinador de papagaios.

Há certa nostalgia da infância, resgatada por um homem já suficientemente maduro, em pleno “inverno” da vida”, consciente de seus limites temporais, mas não menos consciente de que sua cosmovisão pessoal pode ser legada à eternidade pela robustez de sua poesia.

J.A.R. – H.C.

Lêdo Ivo
(1924-2012) 

Soneto do Empinador de Papagaio

A nada aceito, exceto a eternidade,
nesta viagem ambígua que me leva
ao altar absoluto que, na treva,
espera pela minha inanidade.

O que sonhei, menino, hoje é verdade
de alva estação que em meu silêncio neva
o inverno de uma fábula primeva
que foi sol, cego à própria claridade.

Na hora do fim de tudo, separados
fiquem os dois comparsas do destino
que sabe a cinza após o último alento.

E a morte guarde em cova os injuriados
despojos do homem feito; que o menino
empina o papagaio, vive ao vento.

Meninos soltando pipas
(Cândido Portinari: artista brasileiro)

Referência:

IVO, Lêdo. Soneto do empinador de papagaio. In: __________. Os melhores poemas de Lêdo Ivo. Seleção de Sérgio Alves Peixoto. 2. ed. São Paulo, SP: Global, 1990. p. 103. (Os Melhores Poemas, n. 2)

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