O poema que abrilhanta este espaço hoje, “No decía palabras” (“Não dizia
palavras”, pertence à obra “Los Placeres Prohibidos” (“Os Prazeres Proibidos”),
de 1931, de autoria do poeta e crítico andaluz Luis Cernuda.
Mostra-se palpável o tema de amor centrado muito mais no domínio
corporal ou carnal que no espiritual: emerge a expressão do desejo a unir a um
corpo outro corpo capaz de sonhar, sem exigência de resposta. Pois como bem diz
o poeta, o desejo é uma pergunta cuja resposta ninguém ainda logrou saber.
J.A.R. – H.C.
Luis Cernuda
(1902-1963)
No decía palabras
No decía palabras,
acercaba tan sólo un
cuerpo interrogante,
porque ignoraba que
el deseo es una pregunta
cuya respuesta no
existe,
una hoja cuya rama no
existe,
un mundo cuyo cielo
no existe.
La angustia se abre
paso entre los huesos,
remonta por las venas
hasta abrirse en la
piel,
surtidores de sueño
hechos carne en
interrogación vuelta a las nubes.
Un roce al paso,
una mirada fugaz
entre las sombras,
bastan para que el
cuerpo se abra en dos,
ávido de recibir en
sí mismo
otro cuerpo que
sueñe;
mitad y mitad, sueño
y sueño, carne y carne,
iguales en figura,
iguales en amor, iguales en deseo.
Aunque sólo sea una
esperanza,
porque el deseo es
una pregunta cuya respuesta nadie sabe.
Não Fale
(Milena Nobre:
pintora portuguesa)
Não dizia palavras
Não dizia palavras,
aproximava tão
somente um corpo interrogante,
porque ignorava que o
desejo é uma pergunta
cuja resposta não existe,
uma folha cujo ramo
não existe,
um mundo cujo céu não
existe.
A angústia abre
caminho por entre os ossos,
retorna pelas veias
até abrir-se na pele,
jorros de sonho
feitos carne em
interrogação lançada às nuvens.
Um toque de passagem,
um olhar fugaz entre as
sombras,
bastam para que o
corpo se abra em dois,
ávido de receber em
si mesmo
outro corpo que
sonhe;
metade e metade,
sonho e sonho, carne e carne,
iguais em figura,
iguais em amor, iguais em desejo.
Ainda que seja
somente uma esperança,
porque o desejo é uma
pergunta cuja resposta ninguém sabe.
Referência:
CERNUDA, Luis. No decía palabras. In:
DE LA VEGA, Garcilaso et al. Los cien
mejores poemas de amor de la lengua española. Madrid (ES): Editorial
Verbum, 2013. p. 74.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário