Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Luis Cernuda - Não dizia palavras

O poema que abrilhanta este espaço hoje, “No decía palabras” (“Não dizia palavras”, pertence à obra “Los Placeres Prohibidos” (“Os Prazeres Proibidos”), de 1931, de autoria do poeta e crítico andaluz Luis Cernuda.

Mostra-se palpável o tema de amor centrado muito mais no domínio corporal ou carnal que no espiritual: emerge a expressão do desejo a unir a um corpo outro corpo capaz de sonhar, sem exigência de resposta. Pois como bem diz o poeta, o desejo é uma pergunta cuja resposta ninguém ainda logrou saber.

J.A.R. – H.C.

Luis Cernuda
(1902-1963)

No decía palabras

No decía palabras,
acercaba tan sólo un cuerpo interrogante,
porque ignoraba que el deseo es una pregunta
cuya respuesta no existe,
una hoja cuya rama no existe,
un mundo cuyo cielo no existe.

La angustia se abre paso entre los huesos,
remonta por las venas
hasta abrirse en la piel,
surtidores de sueño
hechos carne en interrogación vuelta a las nubes.

Un roce al paso,
una mirada fugaz entre las sombras,
bastan para que el cuerpo se abra en dos,
ávido de recibir en sí mismo
otro cuerpo que sueñe;
mitad y mitad, sueño y sueño, carne y carne,
iguales en figura, iguales en amor, iguales en deseo.
Aunque sólo sea una esperanza,
porque el deseo es una pregunta cuya respuesta nadie sabe.

Não Fale
(Milena Nobre: pintora portuguesa)

Não dizia palavras

Não dizia palavras,
aproximava tão somente um corpo interrogante,
porque ignorava que o desejo é uma pergunta
cuja resposta não existe,
uma folha cujo ramo não existe,
um mundo cujo céu não existe.

A angústia abre caminho por entre os ossos,
retorna pelas veias
até abrir-se na pele,
jorros de sonho
feitos carne em interrogação lançada às nuvens.

Um toque de passagem,
um olhar fugaz entre as sombras,
bastam para que o corpo se abra em dois,
ávido de receber em si mesmo
outro corpo que sonhe;
metade e metade, sonho e sonho, carne e carne,
iguais em figura, iguais em amor, iguais em desejo.
Ainda que seja somente uma esperança,
porque o desejo é uma pergunta cuja resposta ninguém sabe.

Referência:

CERNUDA, Luis. No decía palabras. In: DE LA VEGA, Garcilaso et al. Los cien mejores poemas de amor de la lengua española. Madrid (ES): Editorial Verbum, 2013. p. 74.

Nenhum comentário:

Postar um comentário