Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 20 de setembro de 2015

Ronald de Carvalho - Interior

Este poema do poeta carioca Ronald de Carvalho é um exemplo de que mesmo as coisas mais simples podem ser objeto de belos poemas. Ronald retrata a cena idílica de um hipotético ambiente interiorano, onde há ainda suficiente integração entre as coisas criadas pelo homem e a natureza à volta.

A descrição das árvores como tendo o poder do canto é antológica: em vez de afirmar que elas estão abarrotadas de aves, cigarras e insetos, o poeta desloca o som desses animais para as folhas, fazendo crer ao leitor que não somos capazes de identificar visualmente os autores do canto, mas apenas assinalar que eles se encontram empoleirados nas árvores. Tudo de um modo muito acessível e sugestivo!

J.A.R. – H.C.

Retrato de Ronald de Carvalho (1893-1935)
Pintura de Vicente do Rego Monteiro

Interior

Poeta dos trópicos, tua sala de jantar
é simples e modesta como um tranquilo pomar;

no aquário transparente, cheio de água limosa,
nadam peixes vermelhos, dourados e cor de rosa;

entra pelas verdes venezianas uma poeira luminosa,
uma poeira de sol, trêmula e silenciosa,

uma poeira de luz que aumenta a solidão.

Abre a tua janela de par em par. Lá fora, sob o céu de verão,
Todas as árvores estão cantando! Cada folha
é um pássaro, cada folha é uma cigarra, cada folha é um som...
O ar das chácaras cheira a capim melado,
a ervas pisadas, a baunilha, a mato quente e abafado.

Poeta dos trópicos,
dá-me no teu copo de vidro colorido um gole d’água.
(Como é linda a paisagem no cristal de um copo d’água!)

(Porto, 1922)
De: “Epigramas Irônicos e Sentimentais”

O Jantar
(Claude Monet: pintor francês)

Referência:

CARVALHO, Ronald. Interior. In: __________. Poesia e prosa. Org. Peregrino Júnior. 2.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1977. (Nossos clássicos, 45). p.34.

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