Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Wallace Stevens - Da Poesia Moderna

Este poema de Stevens confronta a forma clássica de se fazer poesia, sobre temas como o amor cortês e pastores na Arcádia, com a sua forma mais recente, na qual valem as regras de flexibilidade e da relevância do que se diz para o normal dos viventes, mesmo que, para tanto, tenhamos que nos acercar das coisas desditosas – sem descuidar das belas, por suposto.

Sob tais padrões, Stevens sugere que a poesia moderna há de conter em seu núcleo um único assunto: a própria poesia. Poesia como instrumento de satisfação e de confiança, haja vista que o mundo hodierno prescinde da poesia que tenda a torná-lo ainda mais árduo de se vivenciar.

J.A.R. – H.C.

Wallace Stevens
(1879-1955)

Of Modern Poetry

The poem of the mind in the act of finding
What will suffice. It has not always had
To find: the scene was set; it repeated what
Was in the script.
Then the theatre was changed
To something else. Its past was a souvenir.
I t has to be living, to learn the speech of the place.
It has to face the men of the time and to meet
The women of the time. It has to think about war
And it has to find what will suffice. It has
To construct a new stage. It has to be on that stage
And, like an insatiable actor, slowly and
With meditation, speak words that in the ear,
In the delicatest ear of the mind, repeat,
Exactly, that which it wants to hear, at the sound
Of which, an invisible audience listens,
Not to the play, but to itself, expressed
In an emotion as of two people, as of two
Emotions becoming one. The actor is
A metaphysician in the dark, twanging
An instrument, twanging a wiry string that gives
Sounds passing through sudden rightnesses, wholly
Containing the mind, below which it cannot descend,
Beyond which it has no will to rise.
 It must
Be the finding of a satisfaction, and may
Be of a man skating, a woman dancing, a woman
Combing. The poem of the act of the mind.

No Palco Principal
(Larry Poncho Brown: artista norte-americano)

Da Poesia Moderna

O poema da mente no ato de achar
O que bastará. Nem sempre teve
Que achar: a cena estava pronta; repetia o que
Estava no roteiro.
Então o teatro mudou
Para outra coisa. Seu passado era um souvenir.
Tinha que estar vivo, aprender a fala do lugar.
Tinha que enfrentar os homens da época e encontrar
As mulheres da época. Tinha que pensar sobre a guerra
E tinha que achar o que bastará. Tinha
Que construir um novo palco. Tinha que estar nesse palco
E, como um ator insaciável, lenta e
Meditativamente falar palavras que no ouvido,
No delicadíssimo ouvido da mente, repitam
Exatamente aquilo que quer ouvir, ao som
Do qual uma audiência escuta,
Não à peça, mas a si própria, expressa
Numa emoção como a de duas pessoas, como a de duas
Emoções a se tornar uma. O ator é
Um metafísico no escuro, tangendo
Um instrumento, tangendo um instrumento de arame que faz
Sons passando por súbitas justezas, contendo
Inteiramente a mente, abaixo da qual não consegue descer,
Além da qual não tem vontade de subir.
          Tem que ser
O ato de achar uma satisfação, e pode
Ser a de um homem patinando, uma mulher dançando, uma mulher
Se penteando. O poema do ato da mente.

Referência:

Em inglês:

STEVENS, Wallace. Of modern poetry. In: __________. The collected poems. Parts of a World. 11. ed. New York, NY: Alfred A. Knopf. Inc., feb. 1971. p. 239-240.

Em português:

STEVENS, Wallace. Da poesia moderna. Tradução de Antônio Cícero. Disponível neste endereço. Acesso em: 23 mai. 2015.

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