Este poema de Stevens confronta a forma clássica de se fazer poesia,
sobre temas como o amor cortês e pastores na Arcádia, com a sua forma mais
recente, na qual valem as regras de flexibilidade e da relevância do que se diz
para o normal dos viventes, mesmo que, para tanto, tenhamos que nos acercar das
coisas desditosas – sem descuidar das belas, por suposto.
Sob tais padrões, Stevens sugere que a poesia moderna há de conter em
seu núcleo um único assunto: a própria poesia. Poesia como instrumento de
satisfação e de confiança, haja vista que o mundo hodierno prescinde da poesia
que tenda a torná-lo ainda mais árduo de se vivenciar.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
Of Modern
Poetry
The poem of the mind in the act of finding
What will suffice. It has not always had
To find: the scene was set; it repeated what
Was in the script.
Then the theatre was changed
To something else. Its past was a souvenir.
I t has to be living, to learn the speech of the
place.
It has to face the men of the time and to meet
The women of the time. It has to think about war
And it has to find what will suffice. It has
To construct a new stage. It has to be on that
stage
And, like an insatiable actor, slowly and
With meditation, speak words that in the ear,
In the delicatest ear of the mind, repeat,
Exactly, that which it wants to hear, at the sound
Of which, an invisible audience listens,
Not to the play, but to itself, expressed
In an emotion as of two people, as of two
Emotions becoming one. The actor is
A metaphysician in the dark, twanging
An instrument, twanging a wiry string that gives
Sounds passing through sudden rightnesses, wholly
Containing the mind, below which it cannot descend,
Beyond which it has no will to rise.
It must
Be the finding of a satisfaction, and may
Be of a man skating, a woman dancing, a woman
Combing. The poem of the act of the mind.
No Palco Principal
(Larry Poncho Brown:
artista norte-americano)
Da Poesia Moderna
O poema da mente no
ato de achar
O que bastará. Nem
sempre teve
Que achar: a cena
estava pronta; repetia o que
Estava no roteiro.
Então o teatro mudou
Para outra coisa. Seu
passado era um souvenir.
Tinha que estar vivo,
aprender a fala do lugar.
Tinha que enfrentar
os homens da época e encontrar
As mulheres da época.
Tinha que pensar sobre a guerra
E tinha que achar o
que bastará. Tinha
Que construir um novo
palco. Tinha que estar nesse palco
E, como um ator
insaciável, lenta e
Meditativamente falar
palavras que no ouvido,
No delicadíssimo
ouvido da mente, repitam
Exatamente aquilo que
quer ouvir, ao som
Do qual uma audiência
escuta,
Não à peça, mas a si
própria, expressa
Numa emoção como a de
duas pessoas, como a de duas
Emoções a se tornar
uma. O ator é
Um metafísico no
escuro, tangendo
Um instrumento,
tangendo um instrumento de arame que faz
Sons passando por
súbitas justezas, contendo
Inteiramente a mente,
abaixo da qual não consegue descer,
Além da qual não tem
vontade de subir.
Tem que ser
O ato de achar uma
satisfação, e pode
Ser a de um homem
patinando, uma mulher dançando, uma mulher
Se penteando. O poema do ato da mente.
Referência:
Em inglês:
STEVENS, Wallace. Of modern poetry. In: __________. The collected poems. Parts of a World. 11. ed. New
York, NY: Alfred A. Knopf. Inc., feb. 1971. p. 239-240.
Em português:
STEVENS, Wallace. Da poesia moderna. Tradução
de Antônio Cícero. Disponível neste
endereço. Acesso em: 23 mai. 2015.
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