Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Cassiano Nunes - Blue

Um poeminha de um poeta de Santos (SP), que sintetiza toda a natureza volátil da experiência humana. Há modéstia expressa no poema, contudo. Mas não uma falsa modéstia: apenas o reconhecimento de que tudo o que se fez um dia será superado, nesse fluxo infindável do tempo.

As palavras, ainda que pareçam naftalina, podem perdurar por muitos anos ou centúrias, gravadas pelo engenho de mentes singulares, que experimentam o existir de um modo quase sempre inusitado, modelado pela assistência das musas do Parnaso.

J.A.R. – H.C.

Cassiano Nunes
(1921-2007)

Blue

Versos, como os que escrevi,
outros escreverão.

Canções, como as que cantei,
outros cantarão.

Já me substituiu
artesão mais hábil
na oficina.

Outras bocas te revelarão
volúpia mais fina.

Tudo o que morrer comigo
em mais bela forma
o mundo verá.

Perdoem-me
pela parcela mínima
– porém única! –
que não se repetirá.

Blue Abstract
(Simon Brushfield: artista australiano)

Referência:

NUNES, Cassiano. Blue. In: GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 62.

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