Um poeminha de um poeta de Santos (SP), que sintetiza toda a natureza
volátil da experiência humana. Há modéstia expressa no poema, contudo. Mas não
uma falsa modéstia: apenas o reconhecimento de que tudo o que se fez um dia
será superado, nesse fluxo infindável do tempo.
As palavras, ainda que pareçam naftalina, podem perdurar por muitos anos
ou centúrias, gravadas pelo engenho de mentes singulares, que experimentam o
existir de um modo quase sempre inusitado, modelado pela assistência das musas
do Parnaso.
J.A.R. – H.C.
Cassiano Nunes
(1921-2007)
Blue
Versos, como os que
escrevi,
outros escreverão.
Canções, como as que
cantei,
outros cantarão.
Já me substituiu
artesão mais hábil
na oficina.
Outras bocas te
revelarão
volúpia mais fina.
Tudo o que morrer
comigo
em mais bela forma
o mundo verá.
Perdoem-me
pela parcela mínima
– porém única! –
que não se repetirá.
Blue Abstract
(Simon Brushfield: artista australiano)
Referência:
NUNES, Cassiano. Blue. In: GARCÍA, Xosé
Lois. Antologia da poesia brasileira /
Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago de Compostela,
Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 62.
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