Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 6 de junho de 2015

Márcia Theóphilo - A Noite

Um poema embebido na mais explícita intertextualidade: as primeiras páginas do Gênesis aparecem reescritas em ponta-cabeça. No começo não eram as trevas, mas a luz, que a tudo iluminava de modo profuso...

Não havia descanso, não havia a cor negra, a interação entre seres não falantes se dava por meio de uma comunicação pelo pensamento.

Até que surgiu a noite, e com ela o repouso, o silêncio e a música. E então, adveio o canto, para preencher as noites de genuíno encanto.

J.A.R. – H.C.

Márcia Theóphilo
(n. 1941)

A Noite

No princípio não havia noite
não se sabia o que era noite
havia somente luz e era tão intensa nos trópicos
que se tinha a sensação de passar períodos de azul
de vermelho, de verde
era tão forte a luz que as pessoas tinham
a sensação de flutuar
dentro das cores
dentro das plantas
tudo o que hoje não fala, falava
intercomunicava-se entre si
as árvores se falavam
estimulavam o pensamento com suas flores
não se sabia o que era negro
existiam somente as cores que emanavam da luz
distribuíam energia-pensamento
mas não se dormia
o homem não conhecia o que era cansaço
mas não conhecia também a ternura do repouso
o silêncio e a música
porque a música nasceu com o silêncio e com a noite
a música nasceu com a consciência dos primeiros ritmos
e com a noite nasceu o primeiro canto.

Noite Estrelada
(Van Gogh: Pintor Holandês)

Referência:

THEÓPHILO, Márica. A noite. In: GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 312.

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