Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 9 de junho de 2015

Inês Lourenço - Préstimo

No passado, o gato cumpriu a sua missão de livrar as caravelas de roedores indesejados, afirma-nos a poetisa portuguesa Inês Lourenço. Mas... e hoje? Um gato hoje já nasce sem finalidade alguma, senão pela grata beleza de existir!

Completemos, contudo, a sua ideia: hoje serve para “decorar” os nossos sofás ou telhados; para dar exemplo de limpeza para alguns humanos ainda no estágio selvagem, a passar pelas ruas de nossas cidades – Brasília aí inclusa –, atirando ao léu tudo quanto é tipo de lixo, saído de seus pertences ou das janelas dos automóveis.

Se não for outra a hipótese, diríamos que o senso de limpeza dessa gente tende a ser tão apenas privado – e se tanto, pois cremos que a prática tende a ser a mesma em casa ou na rua! “Mala Educación”, diria o cineasta Pedro Almodóvar!

J.A.R. – H.C.

Inês Lourenço
(n. 1942)

Préstimo

Ao Eugénio de Andrade

Um gato não serve realmente
para nada, vão quase seis séculos
desde o tempo das caravelas
onde embarcou com os marítimos para
extermínio dos roedores que
infestavam o porão das naus. Agora
só o dorso oferece às carícias
ou ao regaço o peso
do pequeno corpo, ronronando
a grata beleza de existir.


Referência:

LOURENÇO, Inês. Préstimo. In: GUIMARÃES, João Luís Barreto (Org.). Assinar a pele: antologia de poesia contemporânea sobre gatos. Lisboa, PT: Assírio & Alvim, 2001. p. 96.
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