Carol Giiligan, psicóloga e filósofa feminista norte-americana, é autora
do famoso e não menos polêmico “In a Different Voice” (“Em uma voz diferente:
Teoria Psicológica e Desenvolvimento da Mulher”), de 1982.
É dela a formulação de que a ética masculina seria tipicamente uma “ética
da justiça”, enquanto a feminina seria uma “ética do cuidado”. Para se ter ideia
das hipóteses levantadas, extraímos o excerto abaixo da obra em referência de
Ken Wilber, o teórico da “Psicologia Integral”, no qual há uma síntese
suficientemente eloquente dos argumentos em jogo.
J.A.R. – H.C.
Carol Gilligan
(n. 1936)
(GILLIGAN apud WILBER, 2008, p. 47-48)
A lógica masculina,
ou a voz dos homens, tende a se expressar em termos de autonomia, justiça e
direitos; enquanto a lógica ou voz das mulheres tende a se expressar em termos
de relações, consideração pelos outros e responsabilidade. Os homens tendem
para a ação; as mulheres para a comunhão. Os homens seguem as normas; as
mulheres as conexões. Os homens olham; as mulheres tocam. Os homens tendem para
o individualismo, as mulheres para as relações. A história seguinte é uma das
preferidas de Gilligan: Um menininho e uma menininha vão brincar juntos. O
menino sugere: “Vamos brincar de pirata!”. E a menina propõe: "Vamos fazer
de conta que moramos um ao lado do outro". O menino contesta: "Não,
eu quero brincar de pirata!" E a menina conclui: "Tudo bem, então
você brinca de pirata que mora na casa ao lado".
Quando pequenos, os
meninos não gostam que as meninas fiquem por perto quando jogam beisebol, por
exemplo, porque as duas vozes se opõem radicalmente e, muitas vezes, de maneira
hilária. Alguns meninos estão jogando beisebol, um deles faz seu terceiro
arremesso, erra o alvo e começa a chorar. Os outros meninos ficam imobilizados
até ele parar de chorar; afinal, regra é regra e a regra diz: com três lances
perdidos, o jogador cai fora. Gilligan observa que, se uma garota estiver por
perto, ela provavelmente dirá: “Qual é? Deem a ele uma outra chance!” Ao vê-lo
chorando, a garota quer ajudar, fazer contato e consolá-lo. Essa atitude, no
entanto, enfurece os garotos, pois esse jogo é para eles uma iniciação ao mundo
masculino das regras e da lógica. Segundo Gilligan, os meninos ferem os
sentimentos para salvar as regras; enquanto as meninas quebram as regras para
salvar os sentimentos.
Referência:
WILBER, Ken. A visão integral: uma introdução à revolucionária abordagem
integral da vida, de deus, do universo e de tudo mais. Tradução Carmen Fischer.
São Paulo, SP: Cultrix, 2008.
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