Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 7 de junho de 2015

Gabriela Mistral - O Pensador de Rodin

Um homem retorcido entre os seus pensamentos: a escultura “O Pensador” pode levar quem a contempla às reflexões mais díspares.

A poetisa chilena Gabriela Mistral, por exemplo, julga que ele esteja meditando sobre a morte. Será plausível tal observação, para um homem que se mostra, aliás como as esculturas de Rodin no geral, robusto e transbordando vida em sua estrutura muscular superexposta?!

Quando estive face a face com a escultura, ouvi o comentário malicioso de alguém ao meu lado: “Ele não está pensando absolutamente em nada! Apenas está mirando as formiguinhas em seu trabalho ininterrupto, nas trilhas do plano à sua frente!” (rs).

Então veio-me o seguinte raciocínio: “Se Rodin denominou a escultura como O Pensador, e se ele, de fato, está apreciando as formiguinhas em sua labuta diária, poderá, então, avançar em sua reflexão e se perguntar por que, como os insetos, os seres humanos têm de labutar tanto durante a vida?!”: “Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?” (Ec 1, 3).

Tens aí, ó pensador, um mar sem limites a navegar, para descobrires se há alguma orla onde chegar, hipotético porto seguro de todas as teleologias humanas!

J.A.R. – H.C.

Gabriela Mistral
(1889-1957)


A Laura Rodig

Con el mentón caído sobre la mano ruda,
el Pensador se acuerda que es carne de la huesa,
carne fatal, delante del destino desnuda,
carne que odia la muerte, y tembló de belleza.

Y tembló de amor, toda su primavera ardiente,
y ahora, al otoño, anégase de verdad y tristeza.
El "de morir tenemos" pasa sobre su frente,
en todo agudo bronce, cuando la noche empieza.

Y en la angustia, sus músculos se hienden, sufridores.
Cada surco en la carne se llena de terrores.
Se hiende, como la hoja de otoño, al Señor fuerte

que le llama en los bronces... Y no hay árbol torcido
de sol en la llanura, ni león de flanco herido,
crispados como este hombre que medita en la muerte.

O Pensador
(Auguste Rodin: escultor francês)

Queixo apoiado à mão em postura severa,
lembra-se o Pensador que é da carne uma presa;
carne fatal, desnuda ante o fado que o espera,
carne que odeia a morte e tremeu de beleza;

que estremeceu de amor na primavera ardente
e hoje, imersa no outono, a tristeza conhece.
A ideia de morrer dessa fronte consciente
passa por todo o bronze, à hora em que a noite desce.

De angústia os músculos se fendem, sofredores;
os sulcos de seu corpo enchem-se de terrores;
entrega-se, folha outoniça, ao Senhor forte

que o plasma.  E não se crispa uma árvore torcida
de sol nos plainos, nem leão de anca ferida,
como esse homem que está meditando na morte.

Referência:

MISTRAL, Gabriela. O pensador de Rodin. Tradução de Henriqueta Lisboa. In: __________. Poesias escolhidas. Tradução de Henriqueta Lisboa. Rio de Janeiro: Opera Mundi, 1971. p. 137.

2 comentários:

  1. A tradućão não expressa o sentido do poema. Palavras que não tem o mesmo significado

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  2. Em certo sentido: tudo em razão de uma versão que tenta manter a rima e a métrica do original. Há um claro 'trade-off' entre fidedignidade ao texto no idioma de origem e a tradução: algo quase sempre se perde. Penso que isso deva ser levado em conta na versão ao português, de Henriqueta, aliás, grande amiga de Mistral.
    João A. Rodrigues

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