Um homem retorcido entre os seus pensamentos: a escultura “O Pensador”
pode levar quem a contempla às reflexões mais díspares.
A poetisa chilena Gabriela Mistral, por exemplo, julga que ele esteja
meditando sobre a morte. Será plausível tal observação, para um homem que se
mostra, aliás como as esculturas de Rodin no geral, robusto e transbordando
vida em sua estrutura muscular superexposta?!
Quando estive face a face com a escultura, ouvi o comentário malicioso
de alguém ao meu lado: “Ele não está pensando absolutamente em nada! Apenas
está mirando as formiguinhas em seu trabalho ininterrupto, nas trilhas do plano à sua frente!” (rs).
Então veio-me o seguinte raciocínio: “Se Rodin denominou a escultura
como ‘O Pensador’, e se ele, de fato, está apreciando as formiguinhas em sua
labuta diária, poderá, então, avançar em sua reflexão e se perguntar por que,
como os insetos, os seres humanos têm de labutar tanto durante a vida?!”: “Que
proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do
sol?” (Ec 1, 3).
Tens aí, ó pensador, um mar sem limites a navegar, para descobrires se
há alguma orla onde chegar, hipotético porto seguro de todas as teleologias
humanas!
J.A.R. – H.C.
Gabriela Mistral
(1889-1957)
A Laura Rodig
Con el mentón caído
sobre la mano ruda,
el Pensador se
acuerda que es carne de la huesa,
carne fatal, delante
del destino desnuda,
carne que odia la
muerte, y tembló de belleza.
Y tembló de amor,
toda su primavera ardiente,
y ahora, al otoño,
anégase de verdad y tristeza.
El "de morir
tenemos" pasa sobre su frente,
en todo agudo bronce,
cuando la noche empieza.
Y en la angustia, sus
músculos se hienden, sufridores.
Cada surco en la
carne se llena de terrores.
Se hiende, como la
hoja de otoño, al Señor fuerte
que le llama en los
bronces... Y no hay árbol torcido
de sol en la llanura,
ni león de flanco herido,
crispados como este
hombre que medita en la muerte.
O Pensador
(Auguste Rodin:
escultor francês)
Queixo apoiado à mão
em postura severa,
lembra-se o Pensador
que é da carne uma presa;
carne fatal, desnuda
ante o fado que o espera,
carne que odeia a
morte e tremeu de beleza;
que estremeceu de
amor na primavera ardente
e hoje, imersa no
outono, a tristeza conhece.
A ideia de morrer
dessa fronte consciente
passa por todo o
bronze, à hora em que a noite desce.
De angústia os
músculos se fendem, sofredores;
os sulcos de seu
corpo enchem-se de terrores;
entrega-se, folha
outoniça, ao Senhor forte
que o plasma. E não se crispa uma árvore torcida
de sol nos plainos,
nem leão de anca ferida,
como esse homem que
está meditando na morte.
Referência:
MISTRAL, Gabriela. O pensador de Rodin. Tradução de Henriqueta Lisboa. In: __________. Poesias escolhidas.
Tradução de Henriqueta Lisboa. Rio de Janeiro: Opera Mundi, 1971. p. 137.
❁
A tradućão não expressa o sentido do poema. Palavras que não tem o mesmo significado
ResponderExcluirEm certo sentido: tudo em razão de uma versão que tenta manter a rima e a métrica do original. Há um claro 'trade-off' entre fidedignidade ao texto no idioma de origem e a tradução: algo quase sempre se perde. Penso que isso deva ser levado em conta na versão ao português, de Henriqueta, aliás, grande amiga de Mistral.
ResponderExcluirJoão A. Rodrigues