Salvo engano ainda inédito neste bloguinho, o poeta lituano de língua
polonesa Czeslaw Milosz, Nobel de 1980, é autor de uma poesia nos quais os
versos, segundo Siewierski & Souza, “chamam a atenção pela sua densidade e
precisão intelectuais, seus variados contextos filosóficos e religiosos, suas
intrincadas relações intertextuais” (MILOSZ, 2001, p. 10).
Da resistência da matéria, quando muito, o belo é a única coisa que se
retém, fulmina o poeta. É a beleza de coisas palpáveis da realidade que o
atrai, longe, portanto, daquelas elucubrações de difícil compreensão, ensejadoras
de interpretações mil, infensas a quaisquer paralelos centrados em explicações
objetivas.
J.A.R. – H.C.
Czeslaw
Milosz
(1911-2004)
Nie więcej
Powinienem powiedzieć
kiedyś jak zmieniłem
Opinię o poezji i jak się stało,
Że uważam się
dzisaj za jednego z wielu
Kupców i rzemieślników Cestarstwa Japonii
Układających wiersze o kwitnieniu wiśni,
O chryzantemach i
pełni księżyca.
Gdybym ja mógł
weneckie kurtyzany
Opisać, jak w
podwórzu witką drażnią pawia
I z tkaniny
jedwabnej, z perłowej przepaski
Wyłuskać ociężąłe piersi, czerwonawą
Pręgę na brzuchu od zapięcia sukni,
Tak przynajmniej jak
widział szyper galeonów
Przybyłych tego ranka
z ładunkiem złota;
I gdybym równocześnie mógł ich biedne kości
Na cmentarzu, gdzie
bramę liże
tłuste morze,
Zamknąc w słowie mocniejszym niż
ostatni grzebień
Który w próchnie pod
płytą, sam, czeka na światło.
Tobym nie zwątpił. Z opornej materii
Co da się zebrać? Nic, najwyżej
piękno.
A wtedy nam
wystarczyć muszą kwiaty wiśni
I chryzantemy i
pełnia księżyca.
Não Mais
Preciso contar um dia
como mudei
Minha opinião sobre a
poesia e por que
Me considero hoje um
dos muitos
Mercadores e artesãos
do Império do Japão
Compondo versos sobre
a floração da cerejeira,
Sobre crisântemos e a
lua cheia.
Se eu pudesse
descrever as cortesãs
De Veneza, como
incitam com uma vareta o pavão no pátio
E desfolhar do tecido
sedoso, da cinta nacarina
Os seios pesados, a
marca
Avermelhada no ventre
onde o vestido se abotoa,
Ao menos assim como
as viu o dono das galeotas
Arribadas aquela
manhã carregando ouro;
E se ao mesmo tempo
pudesse encerrar seus pobres ossos
No cemitério, onde o
mar oleoso lambe o portão,
Em palavras mais
duráveis que o derradeiro pente
Que entre carcomas
sob a lápide, só, espera pela luz.
Não duvidaria. Da
resistência da matéria
O que se retém? Nada,
quando muito o belo.
Então devem nos
bastar as flores de cerejeira
E os crisântemos e a
lua cheia.
Referência:
MILOSZ, Czeslaw. Nie więcej / Não Mais. In: __________. Não
mais. Seleção, tradução e introdução de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva
de Souza. Edição bilíngue. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília,
2001. Em polonês: p. 42; em português: p. 43. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)
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