Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Czeslaw Milosz - Não Mais

Salvo engano ainda inédito neste bloguinho, o poeta lituano de língua polonesa Czeslaw Milosz, Nobel de 1980, é autor de uma poesia nos quais os versos, segundo Siewierski & Souza, “chamam a atenção pela sua densidade e precisão intelectuais, seus variados contextos filosóficos e religiosos, suas intrincadas relações intertextuais” (MILOSZ, 2001, p. 10).

Da resistência da matéria, quando muito, o belo é a única coisa que se retém, fulmina o poeta. É a beleza de coisas palpáveis da realidade que o atrai, longe, portanto, daquelas elucubrações de difícil compreensão, ensejadoras de interpretações mil, infensas a quaisquer paralelos centrados em explicações objetivas.

J.A.R. – H.C.

Czeslaw Milosz
(1911-2004)

Nie więcej

Powinienem powiedzieć kiedyś jak zmieniłem
Opinię o poezji i jak się stało,
Że uważam się dzisaj za jednego z wielu
Kupców i rzemieślników Cestarstwa Japonii
Układających wiersze o kwitnieniu wiśni,
O chryzantemach i pełni księżyca.

Gdybym ja mógł weneckie kurtyzany
Opisać, jak w podwórzu witką drażnią pawia
I z tkaniny jedwabnej, z perłowej przepaski
Wyłuskać ociężąłe piersi, czerwonawą
Pręgę na brzuchu od zapięcia sukni,
Tak przynajmniej jak widział szyper galeonów
Przybyłych tego ranka z ładunkiem złota;
I gdybym równocześnie mógł ich biedne kości
Na cmentarzu, gdzie bramę liże tłuste morze,
Zamknąc w słowie mocniejszym niż ostatni grzebień
Który w próchnie pod płytą, sam, czeka na światło.

Tobym nie zwątpił. Z opornej materii
Co da się zebrać? Nic, najwyżej piękno.
A wtedy nam wystarczyć muszą kwiaty wiśni
I chryzantemy i pełnia księżyca. 


Não Mais

Preciso contar um dia como mudei
Minha opinião sobre a poesia e por que
Me considero hoje um dos muitos
Mercadores e artesãos do Império do Japão
Compondo versos sobre a floração da cerejeira,
Sobre crisântemos e a lua cheia.

Se eu pudesse descrever as cortesãs
De Veneza, como incitam com uma vareta o pavão no pátio
E desfolhar do tecido sedoso, da cinta nacarina
Os seios pesados, a marca
Avermelhada no ventre onde o vestido se abotoa,
Ao menos assim como as viu o dono das galeotas
Arribadas aquela manhã carregando ouro;
E se ao mesmo tempo pudesse encerrar seus pobres ossos
No cemitério, onde o mar oleoso lambe o portão,
Em palavras mais duráveis que o derradeiro pente
Que entre carcomas sob a lápide, só, espera pela luz.

Não duvidaria. Da resistência da matéria
O que se retém? Nada, quando muito o belo.
Então devem nos bastar as flores de cerejeira
E os crisântemos e a lua cheia.

Referência:

MILOSZ, Czeslaw. Nie więcej / Não Mais. In: __________. Não mais. Seleção, tradução e introdução de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva de Souza. Edição bilíngue. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 2001. Em polonês: p. 42; em português: p. 43. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)

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