Temos aqui mais um poema do crítico, poeta e tradutor José Paulo Paes, extraído
do seu livro “O Aluno”, de 1947. Ele se diz aluno de grandes mestres da poesia,
como Bandeira, Neruda, Drummond e Rimbaud. Grande companhia!
Trata-se de um soneto-homenagem à própria criação poética, permeado da
mais fina emoção no trato com as palavras. Nos mil lados de um só poema –
diga-se, nas mil interpretações que o texto poético permite, em virtude de seus
atributos conotativos –, o poeta experimenta um sentimento de identificação,
vazado nos pilares caleidoscópicos que lhe são trazidos pelo aprendizado do dia
a dia.
J.A.R. – H.C.
José Paulo Paes
(1926-1998)
O Aluno
São meus todos os
versos já cantados:
A flor, a rua, as
músicas da infância,
O líquido momento e
os azulados
Horizontes perdidos
na distância.
Intacto me revejo nos
mil lados
De um só poema. Nas
lâminas da estância,
Circulam as memórias
e a substância
De palavras, de
gestos isolados.
São meus também os
líricos sapatos
De Rimbaud, e no fundo
dos meus atos.
Canta a doçura triste
de Bandeira.
Drummond me empresta
sempre o seu bigode.
Com Neruda, meu pobre
verso explode
E as borboletas
dançam na algibeira.
Referência:
PAES, José Paulo. O aluno. In:
__________. Melhores poemas de José Paulo
Paes. Seleção de Davi Arrigucci Jr. 3. ed. São Paulo, SP: Global, 2.000. p.
66.
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