Para começar bem a semana, vamos de um soneto bem musical do poeta carioca
Dante Milano. Aliás, musicalidade é o que não falta aos cariocas. Afinal, o Rio
é uma cidade sonante por natureza. Ou estarei simplesmente a fabular?
Milano preconiza um estado de alerta frente ao desconhecido, ao
ignorado, ao sem sentido, às manifestações da violência, contra os quais
haveremos de dar uma resposta de prudência, de paciência.
J.A.R. – H.C.
Dante Milano
(1899-1991)
Retrato de Portinari
Monólogo
Estar atento diante
do ignorado,
Reconhecer-se no
desconhecido,
Olhar o mundo, o
espaço iluminado,
E compreender o que
não tem sentido.
Guardar o que não
pode ser guardado,
Perder o que não pode
ser perdido.
– É preciso ser puro,
mas cuidado!
É preciso ser livre,
mas sentido!
É preciso paciência,
e que impaciência!
É preciso pensar, ou
esquecer,
E conter a violência,
com prudência,
Qual desarmada vítima
ao querer
Vingar-se, sim,
vingar-se da existência,
E, misteriosamente,
não poder.
Monólogo
(Pedro Charters: pintor
português)
Referência:
MILANO, Dante. Monólogo. In: PINTO, José Nêumanne (Sel.). Os cem melhores poetas brasileiros do
século. São Paulo, SP: Geração, 2001. p. 86.
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