O cronista e poeta carioca Olavo Bilac também se deixou encantar pelo
retrato da “Gioconda”, a Mona Lisa, e à musa retratada pelo italiano Leonardo
da Vinci dedicou um dos sonetos constantes em sua coletânea de poemas “Tarde”.
Abaixo o transcrevemos e neste ponto o sumariamos: há no sorriso da Mona
Lisa um quê de fatal, irônico, plasmado em sua “dobrez ancestral”, comparável à
de figuras fabulosas, como a da Quimera. Bilac metaforiza ainda a “beleza fatal”
da senhora à da divina Ísis ou à da esfinge de Gizé, ambas da terra dos faraós,
ou ainda à da sereia, entidade mitológica clássica, e à de Eva, o protótipo
judaico-cristão da primeira mulher.
J.A.R. – H.C.
Olavo Bilac
(1865-1918)
Gioconda
Deu-te o grande
Leonardo ao sorriso a ironia,
Insídia, e eterno
ardil, na luminosa teia:
Tal, a Belerofonte a
Quimera sorria,
E a Esfinge de Gizé
sorri na adusta areia...
A cilada do amor, o
embuste da utopia,
O desejo, que abrasa,
e a esperança, que enleia,
Chispam na tua boca
impenetrável, fria...
Seduzes, através dos
séculos, sereia!
Esse leve clarão no
teu lábio, indeciso,
É a dobrez ancestral,
a malícia primeva
Da Ísis, da pecadora
altriz do Paraíso:
Porque, para extrair
as gerações da treva,
À serpe, e a Adão, e
a Deus, com o teu mesmo sorriso,
Sorria, astuta e
forte, a mãe das raças, Eva.
Gioconda
(Leonardo da Vinci:
pintor italiano)
Elucidário:
Adusta – abrasada, ardente.
Belerofonte – herói grego encarregado de matar Quimera, que devastava a
terra e atacava os rebanhos.
Dobrez – fingimento, hipocrisia.
Altriz – provedora, nutriente.
Referência:
BILAC, Olavo. Gioconda. In: __________.
Poesias. São Paulo, SP: Martin
Claret, 2011. p. 208. (‘A Obra-Prima de Cada Autor’, n. 119)
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