Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 28 de junho de 2015

Olavo Bilac - Gioconda

O cronista e poeta carioca Olavo Bilac também se deixou encantar pelo retrato da “Gioconda”, a Mona Lisa, e à musa retratada pelo italiano Leonardo da Vinci dedicou um dos sonetos constantes em sua coletânea de poemas “Tarde”.

Abaixo o transcrevemos e neste ponto o sumariamos: há no sorriso da Mona Lisa um quê de fatal, irônico, plasmado em sua “dobrez ancestral”, comparável à de figuras fabulosas, como a da Quimera. Bilac metaforiza ainda a “beleza fatal” da senhora à da divina Ísis ou à da esfinge de Gizé, ambas da terra dos faraós, ou ainda à da sereia, entidade mitológica clássica, e à de Eva, o protótipo judaico-cristão da primeira mulher.

J.A.R. – H.C.

Olavo Bilac
(1865-1918)

Gioconda

Deu-te o grande Leonardo ao sorriso a ironia,
Insídia, e eterno ardil, na luminosa teia:
Tal, a Belerofonte a Quimera sorria,
E a Esfinge de Gizé sorri na adusta areia...

A cilada do amor, o embuste da utopia,
O desejo, que abrasa, e a esperança, que enleia,
Chispam na tua boca impenetrável, fria...
Seduzes, através dos séculos, sereia!

Esse leve clarão no teu lábio, indeciso,
É a dobrez ancestral, a malícia primeva
Da Ísis, da pecadora altriz do Paraíso:

Porque, para extrair as gerações da treva,
À serpe, e a Adão, e a Deus, com o teu mesmo sorriso,
Sorria, astuta e forte, a mãe das raças, Eva.

Gioconda
(Leonardo da Vinci: pintor italiano)

Elucidário:

Adusta – abrasada, ardente.
Belerofonte – herói grego encarregado de matar Quimera, que devastava a terra e atacava os rebanhos.
Dobrez – fingimento, hipocrisia.
Altriz – provedora, nutriente.

Referência:

BILAC, Olavo. Gioconda. In: __________. Poesias. São Paulo, SP: Martin Claret, 2011. p. 208. (‘A Obra-Prima de Cada Autor’, n. 119)

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