Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Francisco Carvalho - Bolhas de Sabão

Sobre o poder das palavras é o que versam os versos livres do poema do cearense Francisco Carvalho, objeto desta postagem: aquele poder de criar mundos – ou de refleti-los, se são mundos encapsulados na mente humana.

A alegoria da bolha de sabão que o poeta adota se amolda à excelência ao dispersar das palavras de nossos lábios para realidades além de nossa própria solidão. À conquista de outros espaços, alienígenas, insuspeitados. À satisfação de nossos propósitos que, bem antes, fervem atrás de portas ainda não transpostas.

J.A.R. – H.C.

Francisco Carvalho
(1927-2013)

Bolhas de Sabão

Os homens se divertem com as palavras
como as crianças se divertem com bolhas de sabão.
Ai daquele que põe o coração nas palavras
porque depois vem a perdê-lo
como se perde a identidade da imagem num espelho
partido.
Ai daquele que depositou seu fardo de sonhos
às costas das palavras.
As palavras são como as velas de uma nau que perdesse
a rota da bússola.
Teu coração é um labirinto de palavras
mas as palavras precisam de tuas sensações para existir
e as tuas sensações não são menos abstratas
do que as sete verdades do arco-íris.

Mastigas diariamente as palavras
como se elas fossem um bálsamo para a alma.
As palavras te governam e te configuram
delimitam as fronteiras de tua solidão
os caminhos da eternidade e do adeus.
As palavras assinalam o momento de tua morte
e te ensinam a abrir a porta onde não existe porta. 


Referência:

CARVALHO, Francisco. Bolhas de sabão. In: PINTO, José Nêumanne (Sel.). Os cem melhores poetas brasileiros do século. São Paulo, SP: Geração, 2001. p. 223-224.

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