Com um título bem ambivalente, o poeta modernista Oswald de Andrade,
vislumbra quer um erro fático – que teria se consumado com a conquista do
invasor português, contra os indígenas da terra recém-descoberta –, quer, no episódio
mesmo do descobrimento, a ocorrência de um presumível erro contra o idioma.
Afinal, que língua era aquela que os indígenas e os outros habitantes locais
passaram a articular, meio guarani, meio português?
Ademais, a palavra “pena” postada no meio do poema, reveste-se também de
duplo sentido: um sentimento de pesar pelo ocorrido, tanto quanto o referente
do material comumente empregado pelos indígenas em suas vestimentas.
Note-se este vislumbre: o lusitano “descobriu” o Brasil e, com isso,
desvestiu os seus locais de seus trajes – e por isso há uma clara alusão ao
hipotético clima frio e chuvoso daquele momento –, para, posteriormente,
aparatá-lo com roupas à moda europeia.
Se fosse um claro dia de sol, argumenta o poeta a contrário senso, o
calor obsedante faria com que o sentido ordinatório fosse do indígena ao
português, resultando no corpo desnudo deste último, para atenuar os efeitos do
mormaço da terra recém-divisada.
Como se nota, um poema curto, mas pleno de sentidos. Bem ao gosto da
estética modernista, quase sempre com um característico componente hilariante.
J.A.R. – H.C.
Oswald de Andrade
(1890-1954)
erro de português
Quando o português
chegou
Debaixo duma bruta
chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de
sol
O índio tinha despido
O português
Referência:
ANDRADE. Oswald de. erro de português.
In: __________. Poesias reunidas. 5.
ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 177. (Obras Completas)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário