O poeta baiano Antônio Brasileiro nos apresenta mais um poema-conceito
sobre a arte poética. Seus versos, diz-nos, nascem com a prodigalidade de um
mundo – como articularíamos? – sem teleologias, de um modo natural, alheio a
quaisquer valorações humanas.
São oito dísticos graciosamente redigidos, a veicularem a ideia de que a
poesia não tem propósitos ou programas – distintamente de outras abordagens
mais engajadas –, valendo então por si própria, independentemente dos predicados que se lhe atribuam.
J.A.R. – H.C.
Antônio Brasileiro
(n. 1944)
Arte Poética
Meus versos são da
pura essência
dos poemas
inessenciais.
Nada dizem de
verídico
não querem nada
explicar.
Não narram o clamor
dos peitos
não encaram a dor do
mundo.
Se por vezes falam
alto
é por puro gozo,
júbilo.
humor que brota de
dentro
como se movem os
astros.
Eles, meus versos,
são pura
floração de
irresponsáveis
flores nascidas nos
mangues,
por nascer – mas
multicores,
lindas, não importa
que os homens
as conheçam ou não
conheçam.
(De: “A Pura Mentira”, 1982)
Figura Feminina
(Vicente Romero
Redondo: pintor espanhol)
Referência:
BRASILEIRO, Antônio. Arte poética. In:
GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia
brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago
de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 332.
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