Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 20 de junho de 2015

José-Maria de Heredia - Michelangelo

Heredia, poeta nascido cubano, mas francês naturalizado, é o autor do poema de hoje: um soneto em homenagem ao grande artista renascentista Miguel Ângelo.

As palavras do poeta fazem alusão a todo o poder não só artístico, quanto físico e mental que o mestre despendeu para produzir aquele esplendor pictórico dentro da Capela Sistina, (Vaticano, Roma).

Quem já lá esteve, certamente, não passou indiferente à refulgência e à beleza que emana das figuras vigorosas dos desenhos, bem assim às concepções visuais do italiano para as palavras do Gênesis e de outros eventos bíblicos. Provavelmente, Heredia foi um de se seus muitos visitantes.

J.A.R. – H.C.

José-María de Heredia
(1842-1905)


Certe, il état hanté d’un tragique tourment,
Alors qu’à Ia Sixtine et loin de Rome en fêtes,
Solitaire, il peignait Sibylles et Prophètes
Et, sur le sombre mur, le dernier Jugement.

Il écoutait en lui pleurer obstinément,
Titan que son désir enchaîne aux plus hauts faîtes,
La Patrie et l’Amour, Ia Gloire et leurs défaites;
Il songeait que tout meurt et que le rève ment.

Aussi ces lourds Géants, Ias de leur force exsangue,
Ces Esclaves qu’étreint une infrangible gangue,
Comme il les a tordus d’une étrange façon;

Et dans les marbres froids où bout son âme altière,
Comme il a fait courir avec un grand frisson
La colère d’un Dieu vaincu par Ia Matière! 

La Volta della Sistina

Michelangelo

Certo, um travor de drama o afligia, brutal,
Quando, a sós, na Sixtina, – ao longe, em festas, Roma –
As sibilas debuxa, e os Profetas, e assoma
Ao ermo paredão, e urde o Juízo Final.

Escuta, amiúde, n’alma, – e o desejo, que o toma,
Logo o Titã o exalça ao píncaro imortal –,
Chorando, a Pátria e o Amor, a Glória e o doer fatal.
Ah! tudo morre! pensa. E mente a luz que o doma!

D’aí, toda a expressão estranha com que acurva,
Aos gigantes que pinta, o tédio hercúleo e a aluir,
E o horror de constrição da grei cativa e turva.

Dentro ao mármore frio insere a própria artéria,
E, ufano, em vibrações, faz ecoar e estrugir
A cólera de um Deus joguete da Matéria!

Referência:

HEREDIA, José María. Michelangelo. Tradução de Félix Pacheco. In: MAGALHÃES JÚNIOR, R. Antologia de poetas franceses: do século XV ao século XX. Rio de Janeiro, RJ: Tupy, 1950. p. 176-177.

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