Heredia, poeta nascido cubano, mas francês naturalizado, é o autor do
poema de hoje: um soneto em homenagem ao grande artista renascentista Miguel
Ângelo.
As palavras do poeta fazem alusão a todo o poder não só artístico,
quanto físico e mental que o mestre despendeu para produzir aquele esplendor pictórico dentro da
Capela Sistina, (Vaticano, Roma).
Quem já lá esteve, certamente, não passou indiferente à refulgência e à beleza que emana das figuras vigorosas dos desenhos, bem assim às concepções
visuais do italiano para as palavras do Gênesis e de outros eventos
bíblicos. Provavelmente, Heredia foi um de se seus muitos visitantes.
J.A.R. – H.C.
José-María de Heredia
(1842-1905)
Certe, il état hanté
d’un tragique tourment,
Alors qu’à Ia Sixtine
et loin de Rome en fêtes,
Solitaire, il
peignait Sibylles et Prophètes
Et, sur le sombre
mur, le dernier Jugement.
Il écoutait en lui
pleurer obstinément,
Titan que son désir enchaîne aux plus hauts faîtes,
La Patrie et l’Amour,
Ia Gloire et leurs défaites;
Il songeait que tout
meurt et que le rève ment.
Aussi ces lourds
Géants, Ias de leur force exsangue,
Ces Esclaves qu’étreint
une infrangible gangue,
Comme il les a tordus
d’une étrange façon;
Et dans les marbres froids où bout son âme altière,
Comme il a fait courir avec un grand frisson
La colère d’un Dieu
vaincu par Ia Matière!
La Volta della Sistina
Michelangelo
Certo, um travor de
drama o afligia, brutal,
Quando, a sós, na Sixtina,
– ao longe, em festas, Roma –
As sibilas debuxa, e
os Profetas, e assoma
Ao ermo paredão, e
urde o Juízo Final.
Escuta, amiúde, n’alma,
– e o desejo, que o toma,
Logo o Titã o exalça
ao píncaro imortal –,
Chorando, a Pátria e
o Amor, a Glória e o doer fatal.
Ah! tudo morre!
pensa. E mente a luz que o doma!
D’aí, toda a
expressão estranha com que acurva,
Aos gigantes que
pinta, o tédio hercúleo e a aluir,
E o horror de constrição
da grei cativa e turva.
Dentro ao mármore frio
insere a própria artéria,
E, ufano, em vibrações,
faz ecoar e estrugir
A cólera de um Deus
joguete da Matéria!
Referência:
HEREDIA, José María. Michelangelo.
Tradução de Félix Pacheco. In: MAGALHÃES JÚNIOR, R. Antologia de poetas franceses: do século XV ao século XX. Rio de
Janeiro, RJ: Tupy, 1950. p. 176-177.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário