Londres – Inglaterra
“To the Lighthouse” (“Rumo ao Farol” - 1927), uma das obras solares da
britânica Virginia Woolf, impacta os seus leitores menos pelos efeitos de seu
enredo, senão pelo poder da introspecção filosófica do qual está permeado. Ali
estão os temas da complexidade da experiência humana e de seus inevitáveis relacionamentos.
Raros são os diálogos. Em contraste, as divagações são muitas, partindo da
mente de personagens distintos, como a que transcrevemos abaixo, a vaguear pela psique do Sr. Ramsay.
A passagem, de fato, é relatada por um narrador anônimo – no fundo, a própria autora –, mas através do ponto de vista do personagem. Se a exposição em terceira pessoa introduz certo distanciamento, ao enfocar o Sr. Ramsay de uma mirada externa, o facho interno permite a aproximação, o mais possível, à percepção subjetiva do protagonista. O efeito deliberado é o desmanche ou a ausência de nitidez dos confins entre o mental e o resto do mundo, ou melhor, a psique é apresentada como elemento integrante do mundo natural no qual está imersa. Madame Woolf é mestra nesse tipo de recurso, pois o usa com prodigalidade em muitas de suas obras.
A passagem, de fato, é relatada por um narrador anônimo – no fundo, a própria autora –, mas através do ponto de vista do personagem. Se a exposição em terceira pessoa introduz certo distanciamento, ao enfocar o Sr. Ramsay de uma mirada externa, o facho interno permite a aproximação, o mais possível, à percepção subjetiva do protagonista. O efeito deliberado é o desmanche ou a ausência de nitidez dos confins entre o mental e o resto do mundo, ou melhor, a psique é apresentada como elemento integrante do mundo natural no qual está imersa. Madame Woolf é mestra nesse tipo de recurso, pois o usa com prodigalidade em muitas de suas obras.
J.A.R. – H.C.
O Olho do Lagarto
“O olho do lagarto pestanejou de novo.
As veias de sua testa intumesceram. O gerânio no vaso tornou-se
surpreendentemente visível e destacado entre as folhas; podia ver, sem o
desejar, a velha, a óbvia distinção entre as duas espécies de homens; de um
lado os que avançam com força sobre-humana e, com esforço e perseverança,
repetem o alfabeto inteiro, ordenadamente, vinte e seis letras ao todo, do
começo ao fim; de outro lado os bem-dotados, os inspirados que, miraculosamente,
vislumbram todas as letras de uma só vez, numa única visão – o caminho dos
gênios. Ele não era genial; e não tinha nenhuma pretensão quanto a isso; mas tinha, ou poderia ter, a capacidade de repetir cada letra do alfabeto, de A a Z, primorosamente em ordem” (WOOLF, 2003, p. 39).
Virginia Woolf
(1882-1941)
Retrato de Roger Fry
Referência:
WOOLF, Virginia. Rumo ao farol. Tradução de Luiza Lobo. Rio de Janeiro: O Globo; São
Paulo: Folha de São Paulo, 2003.
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