Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 29 de junho de 2014

Giacomo Leopardi – A Si Mesmo

Giacomo Leopardi, o grande poeta italiano, destila todo o seu desencanto e melancolia no poema a seguir, “A Se Stesso” (“A Si Mesmo”). Com desapego em relação à maior de todas as forças – a do amor –, como que se despede do mundo, onde já não vê quaisquer esperanças, senão pura “lama”, dado que a vida, para ele, passou a denotar apenas “nojo e tédio”.

Nota-se na poesia certo lirismo destrutivo, originário, provavelmente, da mesma fonte onde se saciaram nossos poetas românticos da fase do “Mal do Século”, como Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu.

Mas o desencanto de Leopardi, que se predica mais latamente pelo vocábulo “vacuidade”, poderia ser associado a um precedente muito mais vetusto, vale dizer, ao Livro do Eclesiastes, onde se traduziria como “vaidade”, no famoso versículo (Ecl 1,2): “Vaidade das vaidades – diz Coélet - tudo é vaidade”.

Para pacientes avançados em idade, até se poderia compreender os motivos de tanto cansaço com a vida. Mas para pessoas jovens, tanto niilismo se reputa incompreensível. Afinal, a vida tem belezas incontáveis!

J.A.R. – H.C. 
Giacomo Leopardi
(1798-1837)

A Se Stesso

Or poserai per sempre,
stanco mio cor. Peri l’inganno estremo,
ch’eterno io mi credei. Perì. Ben sento,
in noi di cari inganni,
non che la speme, il desiderio è spento.
Posa per sempre. Assai
palpitasti. Non val cosa nessuna
i moti tuoi, né di sospiri è degna
la terra. Amaro e noia
la vita, altro mai nulla; e fango è il mondo.
T’acqueta omai. Dispera
l’ultima volta. Al gener nostro il fato
non donò che il morire. Omai disprezza
te, la natura, il brutto
poter che, ascoso, a comun danno impera,
e l’infinita vanità del tutto.

Melancholy
(Domenico Feti: 1589-1623)

A Si Mesmo
(Giacomo Leopardi)

Enfim repousas sempre
Meu lasso coração. Findo é o engano.
Que perpétuo julguei. Findou. Bem sinto
Quem em nós dos caros erros
Mais que a esperança, o próprio anelo é extinto.
Repousa sempre. Muito
Palpitaste. Nenhuma coisa vale
Teus impulsos, nem digna é de suspiros
A terra. Nojo e tédio
É a vida, nada mais, e lama é o mundo.
Repousa. E desespera
A última vez. À nossa espécie o fado
Não deu mais que o morrer. Enfim despreza
A natureza, o rudo
Poder que, oculto, o comum dano gera
E a vacuidade sem final de tudo.

Referência:

LEOPARDI, Giacomo. A si mesmo. Poesia – Cantos – XXVIII.  Tradução de Alexei Bueno. In: __________. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 268.

Nenhum comentário:

Postar um comentário