O poeta pernambucano Manuel Bandeira volta a abrilhantar este espaço,
ele que aqui já esteve em poema sobre a minha cidade natal – Belém do Pará.
E é exatamente sobre a temática dos gatos que o poeta retorna: descreve-nos
ele uma pensãozinha burguesa na qual a única criatura refinada no “pedaço” era um
gatinho que fazia pipi com elegância. Ou seja: até para fazer pipi há que se
ter elegância (rs)!
Ao se ler o poema, nota-se um acento no adjetivo “amarelo!”, que sem fazer
concordância com as duas outras partes da frase – “Os girassóis resistem” (à
luz escaldante do sol, obviamente) –, sobressai altaneiro no meio da criação.
Com a junção da exclamação ao lado do vocábulo, o “amarelo” torna-se algo
substantivado, como se o poeta quisesse reafirmar que a cor dos girassóis
replica a do sol.
J.A.R. – H.C.
Caricatura de Manuel Bandeira
(1886-1968)
Pensão Familiar
Jardim da pensãozinha
burguesa.
Gatos espapaçados ao
sol.
A tiririca sitia os
canteiros chatos.
O sol acaba de
crestar os gosmilhos que murcharam.
Os girassóis
amarelo!
resistem.
E as dálias,
rechonchudas, plebeias, dominicais.
Um gatinho faz pipi.
Com gestos de garçom
de restaurant-Palace
Encobre
cuidadosamente a mijadinha.
Sai vibrando com
elegância a patinha direita:
– É a única criatura
fina na pensãozinha burguesa.
Referência:
BANDEIRA, Manuel. Pensão familiar. In:
NOVAES, Adauto (org.). Anos 70:
ainda sob a tempestade. Rio de Janeiro: Ed. Aeroplano; Ed. Senac Rio, 2005. p.
193-194.
ö
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