Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Manuel Bandeira - Pensão Familiar

O poeta pernambucano Manuel Bandeira volta a abrilhantar este espaço, ele que aqui já esteve em poema sobre a minha cidade natal – Belém do Pará.

E é exatamente sobre a temática dos gatos que o poeta retorna: descreve-nos ele uma pensãozinha burguesa na qual a única criatura refinada no pedaço era um gatinho que fazia pipi com elegância. Ou seja: até para fazer pipi há que se ter elegância (rs)!

Ao se ler o poema, nota-se um acento no adjetivo “amarelo!”, que sem fazer concordância com as duas outras partes da frase – “Os girassóis resistem” (à luz escaldante do sol, obviamente) –, sobressai altaneiro no meio da criação. Com a junção da exclamação ao lado do vocábulo, o “amarelo” torna-se algo substantivado, como se o poeta quisesse reafirmar que a cor dos girassóis replica a do sol.

J.A.R. – H.C. 
Caricatura de Manuel Bandeira
(1886-1968)

Pensão Familiar

Jardim da pensãozinha burguesa.
Gatos espapaçados ao sol.
A tiririca sitia os canteiros chatos.
O sol acaba de crestar os gosmilhos que murcharam.
Os girassóis
amarelo!
resistem.
E as dálias, rechonchudas, plebeias, dominicais.
Um gatinho faz pipi.
Com gestos de garçom de restaurant-Palace
Encobre cuidadosamente a mijadinha.
Sai vibrando com elegância a patinha direita:
– É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.


Referência:

BANDEIRA, Manuel. Pensão familiar. In: NOVAES, Adauto (org.). Anos 70: ainda sob a tempestade. Rio de Janeiro: Ed. Aeroplano; Ed. Senac Rio, 2005. p. 193-194.
ö

Nenhum comentário:

Postar um comentário