Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Jorge Guillén – Gatos de Roma

Agora, diretamente da pena do escritor espanhol Jorge Guillén, trazemos um belo poema, a fazer referência não aos gatos castelhanos (rs), mas aos romanos. Consigne-se que, depois de aposentado, lá pelos fins dos anos 50, Guillén, retornando dos EUA – para onde se dirigira em meados dos anos 30 –, passou a residir na Itália, época, então, em que redigiu este poema.

Nota-se nos meandros da criação de Guillén uma clara alusão ao passado glorioso de Roma, onde, hoje, circulam não renomadas figuras que ficaram para a História – grafada assim, com letras maiúsculas, pelo poeta –, mas inocentes bichanos, que se comprazem em lamber seus pelos e patas, indiferentes ao que “dizem” as colunas postadas à sua frente.

Num cenário digno de Pasolini, como se estivéssemos nos arrabaldes da “Cidade Eterna”, a paisagem se modifica pela construção de novos edifícios; e, então, sem evocar as forças pretéritas, o fluxo temporal da urbe se esvai, apático e quase improgressivo.

J.A.R. – H.C. 
Jorge Guillén
(1893-1984)

Gatos de Roma

Los gatos,
No vagabundos pero sin un dueño,
Al sol adormecidos
En calles sin aceras,
O esperando una mano dadivosa
Tal vez por entre ruinas,
Los gatos,
Inmortales de modo tan humilde,
Retan al tiempo, duran
Atravesando las vicisitudes,
Sin saber de la Historia
Que levanta edificios
O los deja abismarse entre pedazos
Bellos aún, ahora apoyos nobles
Do esas figuras: libres.
Mirada fija de unos ojos verdes
En soledad, en ocio y luz remota.
Entrecerrados ojos,
Rubia la piel y calma iluminada.
Erguido junto a un mármol,
Superviviente resto de columna,
Alguién feliz y pulcro
Se atusa con la pata relamida.
Gatos. Frente a la Historia,
Sensibles, serios, solos, inocentes. 



Gatos de Roma

Os gatos,
Não vagabundos mas sem um dono,
Ao sol adormecidos
Em ruas sem calçadas,
Ou esperando uma mão dadivosa
Talvez por entre ruínas,
Os gatos,
Imortais de modo tão humilde,
Desafiam o tempo, resistem
Atravessando as vicissitudes,
Sem saber da História
Que levanta edifícios
Ou os deixa abismar-se entre pedaços
Belos ainda, agora suportes nobres
Dessas figuras: livres.
Olhar fixo de uns olhos verdes,
Em solidão, em ócio e luz remota.
Semicerrados olhos,
Loira a pelagem e calma iluminada.
Erguido junto a um mármore,
Sobrevivente resto de coluna,
Alguém feliz e pulcro
Alisa-se com a pata lambida.
Gatos. Frente à História,
Sensíveis, sérios, sozinhos, inocentes.

Referência:

GUILLÉN, Jorge. Gatos de Roma. In: __________. Suite italienne. Milán, IT:  All’insegna del pesce d’oro, 1964. p. 26.
ö

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