Sobre o outono de nossas vidas aqui
já retratei um pensamento do escritor australiano Patrick White, eivado de
ceticismo. Mas agora retorno com outros quatro poemas sobre o mesmo tema, um
deles, suficientemente famoso – “When You Are Old”, do irlandês W. B. Yeats –,
e os outros três da lavra do poeta Bastos Tigre (n. 1882 – Recife; m. 1957 –
Rio de Janeiro).
O poema de Yeats denuncia um amor quase platônico – provavelmente do
próprio autor, haja vista que as palavras reunidas evocam um estado d’alma de
quem as lança ao ar! – por uma mulher que parece não se importar muito em
corresponder à corte, uma vez que, para o parceiro que se afirma ímpar em
relação aos demais, a alma da amante qualifica-se como “peregrina”.
Mas a imaginação de Yeats emerge com maior destaque na última quadra, na qual, se colocando no lugar da contraparte, fantasia um arrependimento superveniente
desta última, quando então todas as potências do amor já houverem fenecido.
Quanto aos poemas de Bastos Tigre, revelam um poeta perito no conhecimento do que vai no íntimo daqueles avançados em decênios (rs). E nisso numa forma que, a julgar pela recolha contida na sua obra de referência, era a de sua predileção: o soneto.
J.A.R. – H.C.
W. B. Yeats
(1865-1939)
When You Are
Old
(YEATS, 2007, p. 233)
When you are old and grey and full of sleep,
And nodding by the fire, take down this book,
And slowly read, and dream of the soft look
Your eyes had once, and of their shadows deep;
How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true,
But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face;
And bending down beside the glowing bars,
Murmur, a little sadly, how Love fled
And paced upon the mountains overhead
And hid his face amid a crowd of stars.
Quando estiveres
dormente, velha e grisalha,
Junto ao fogo
cochilando, toma este exemplar,
E lentamente o lê, e
sonha com o suave olhar
De outrora, que teu
intenso mistério amealha;
Quantos amaram tuas
graciosidades amenas,
E amaram tua beleza
com falsa ou vera empatia,
Mas só um homem amou
a tua alma erradia,
E do teu rosto em
mudança amou as penas;
E inclinando-te ante
o incandescente metal,
Murmuras que o amor
se foi, de modo lasso,
E fugiu pelos cimos
dos montes a largo passo,
Cobrindo a face às
estrelas do éter sideral.
Bastos Tigre
(1882-1957)
Entardecer
(TIGRE, 2005, p. 40)
Vem, com a velhice,
esta serenidade
Que nos faz ver o
mundo sem rancor,
Ter um suave sorriso
de piedade
Para quem no ódio
viva, odiando o amor.
O ceticismo torna-se
em vontade
De ser bom, fazer bem
seja a quem for;
Ao mau que não tem
culpa da maldade,
Ao que é, por seu
destino, sofredor.
Abençoada velhice! Os
desenganos
Que nas lições da
vida ela nos traz
Nos trazem lucros,
não nos trazem danos;
Vemos que a luta que
ficou atrás
Não vale, bem medida,
os poucos anos
Que nos resta viver,
vivendo em paz.
Envelhecer
(TIGRE, 2005, p. 41)
Entra pela velhice
com cuidado,
Pé ante pé, sem
provocar rumores
Que despertem
lembranças do passado,
Sonhos de glória,
ilusões de amores.
Do que tiveres no
pomar plantado,
Apanha os frutos e
recolhe as flores;
Mas lavra, ainda, e
planta o teu eirado,
Que outros virão
colher quando te fores.
Não te seja a velhice
enfermidade.
Alimenta no espírito
a saúde,
Luta contra as
tibiezas da vontade.
Que a neve caia, o
teu ardor não mude.
Mantém-te jovem,
pouco importa a idade;
Tem cada idade a sua
juventude!...
Vita Brevis
(TIGRE, 2005, p. 63)
“A vida – dizes tu –
tão curta é a vida
Setenta anos…
oitenta… e é a morte, é o nada
Não vale a pena tão
penosa lida
Para tão breve e
rápida jornada”…
É que medes a vida
mal medida,
Aos teus cinco
sentidos limitada,
Entre um tálamo e um
túmulo vivida,
Pela ambição e o
egoísmo partilhada.
Mas vive além da tua
natureza,
Foge à matéria e o
espírito exercita
Em ações de Bondade e
Beleza;
Belo e útil faze
quanto em ti palpita
E sentirás, com
glória e com surpresa,
Como a vida é
imortal, indefinita…
Referências:
TIGRE, Bastos. Poemas. Organização de Christina Bastos Tigre. [Rio de Janeiro]:
Produção Independente, 2005.
YEATS, W. B. When you are old. In: ASSONI, Clara; PAGANI, Daniela. Antologia della poesia inglese: per i
corsi di letteratura inglese della laurea triennale. Milano: I.S.U. Università
Cattolica, 2007.
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