Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Pablo Neruda - Sono de Gatos

Em novo poema sobre os gatos, trazemos outra vez o Nobel de Literatura de 1971, o chileno Pablo Neruda, para nos agraciar com as suas habilidades e proezas, ao descrever um bichano que se compraz tão apenas em dormir.

 

Parece-nos que Neruda enxerga paisagens algo tumultuosas no simples dormitar de um gato, a miríades da aparente serenidade que a espécie externaliza em tais momentos. Lá, nos interstícios da mente de um felino, soçobram aventuras insuspeitadas pelos mortais humanos: um sonho grandioso de renhidas conquistas.

 

J.A.R. – H.C. 

 

Pablo Neruda

(1904-1973)

 

Sueño de Gatos

 

Qué bonito duerme un gato,

duerme con patas y peso,

duerme con sus crueles uñas,

y con su sangre sanguinaria,

duerme con todos los anillos

que como círculos quemados

construyeron la geología

de una cola color de arena.

 

Quisiera dormir como un gato

con todos los pelos del tiempo,

con la lengua del pedernal,

con el sexo seco del fuego

y después de no hablar con nadie,

tenderme sobre todo el mundo,

sobre las tejas y la tierra

intensamente dirigido

a cazar las ratas del sueño.

 

He visto cómo ondulaba,

durmiendo, el gato: corría

la noche en él como agua oscura,

y a veces se iba a caer,

se iba tal vez a despeñar

en los desnudos ventisqueros,

tal vez creció tanto durmiendo

como un bisabuelo de tigre

y saltaría en las tinieblas

tejados, nubes y volcanes.

Duerme, duerme, gato nocturno

con tus ceremonias de obispo,

y tu bigote de piedra:

ordena todos nuestros sueños,

dirige la oscuridad

de nuestras dormidas proezas

con tu corazón sanguinario

y el largo cuello de tu cola.

 

Gato Dormindo

(Kazumi Kochu)

 

Sono de Gatos

 

Que bonito dorme um gato,

dorme com patas e peso,

dorme com suas cruéis unhas,

e com seu sangue sanguinário,

dorme com todos os anéis

que como círculos queimados

construíram a geologia

de uma cauda cor de areia.

 

Quisera dormir como um gato

com todos os pelos do tempo,

com a língua de sílex,

com o sexo seco de fogo

e depois de não falar com ninguém,

estender-me sobre todo o mundo,

sobre as telhas e a terra

intensamente dedicado

a caçar as ratazanas do sonho.

 

Tenho visto como

o gato ondulava ao dormir: corria

a noite nele como água escura,

e às vezes vinha a cair,

vinha talvez a precipitar-se

nas desnudas geleiras,

talvez haja crescido tanto dormindo

como um bisavô de tigre

e saltaria nas trevas,

telhados, nuvens e vulcões.

Dorme, dorme, gato noturno

com tuas cerimônias de bispo,

e teu bigode de pedra:

ordena todos nossos sonhos,

dirige a escuridão

de nossas adormecidas proezas

com teu coração sanguinário

e o contorno de tua cauda.

 

Referência:

 

NERUDA, Pablo. Sueño de gatos. In: __________. Five decades: poems 1925-1970. A bilingual edition edited and translated from the spanish by Ben Belitt. New York: Grove Press, 1974. p. 196-197.

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