Nova Iorque – EUA
Do ensaio referenciado mais abaixo, extraímos o seguinte excerto, de
autoria da ensaísta norte-americana Susan Sontag, no qual ela sumaria um ponto
de vista singular sobre a obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de
Machado de Assis, com mesclas de conceitos sobre o que sejam a modernidade, o
provincianismo e a própria literatura.
J.A.R. – H.C.
Vidas póstumas: o caso de Machado de Assis
“Com tempo bastante, vida póstuma
bastante, um grande livro termina por encontrar o seu lugar de justiça. E
talvez alguns livros precisem ser redescobertos algumas vezes. Memórias
Póstumas de Brás Cubas é pelo visto um desses livros, arrebatadoramente
originais, radicalmente céticos, que sempre impressionarão os leitores com a
força de uma descoberta particular. É pouco provável que soe como um grande
elogio dizer que esse romance, escrito mais de um século atrás, parece bem...
moderno. Acaso não estamos prontos a reconhecer toda obra que nos fale com
originalidade e lucidez como uma das obras que desejamos alistar no que
compreendemos como modernidade? Nossos critérios de modernidade são um sistema
de ilusões lisonjeadoras, que nos permitem colonizar seletivamente o passado,
assim como nossas ideias do que é provinciano permitem que certas partes do
mundo desdenhem de todo o resto. Estar morto pode representar um ponto de vista
que não pode ser acusado de ser provinciano. Sem dúvida, Memórias Póstumas de
Brás Cubas é um dos livros mais divertidamente não provincianos já escritos. E
amar esse livro é tornar a si mesmo um pouco menos provinciano a respeito da
literatura, a respeito das possibilidades da literatura” (SONTAG, 2005, p. 59-60).
Susan Sontag
(1933-2004)
Referência:
SONTAG, Susan. Vidas póstumas: o caso
de Machado de Assis. In: __________. Questão
de ênfase: ensaios. Tradução de Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2005. p. 47-60.
☯
Nenhum comentário:
Postar um comentário