Benedetti, com seu
característico estilo, entre burlesco e satírico, apresenta-nos neste poema um
retrato coletivo e cotidiano dos poetas: longe da imagem romântica e solitária
do poeta clássico, aqui os encontramos em sociedade, com suas contradições e amenidades,
pessoas comuns do povo, mas com uma sensibilidade única por meio da qual
capturam a beleza e as miríades de significados que há no mundo, suas verdades,
seus pasmos.
A poesia, segundo o
poeta, não constitui apenas um ato de criação que ocorre em momentos de inspiração,
senão também uma prática reiterada do dia a dia, um modo de vida. Afinal, tem
ela o seu caráter discutível e as suas complexidades, a par de uma inclinação
questionadora, ponderosa, tomando de assalto os poetas apenas quando desnudos
de corpo e de alma.
J.A.R. – H.C.
Mario Benedetti
(1920-2009)
Los poetas
Los poetas se
encuentran en congresos
en saraos en cárceles
en las antologías
unos cosechan loas en
manuales de fama
otros son asediados
por la casta censura
los poetas se abrazan
en los aeropuertos
y sus tropos
encienden la alarma en las aduanas
a menudo bostezan en
recitales de otros
y asumen que en el
propio bostecen los amigos
los poetas se
instalan en las ferias anuales
y estampan codo a
codo sus firmas ilegibles
y al concluir la
faena les complace de veras
que se acerquen los
jóvenes confianzudos y tímidos
los poetas se
encuentran en simposios
por la paz pero nunca
la consiguen
unos reciben premios
/ otros palos de ciego
son una minoría
casual y variopinta
sus mejores hallazgos
son harto discutibles
estudios inclementes
revelan sus andamios
los analistas buscan
variantes / los poetas
suelen dejar alguna
para animar el corro
los poetas frecuentan
boliches y museos
tienen pocas
respuestas pero muchas preguntas
frugales o soberbios
/ a su modo sociables
a veces se enamoran
de musas increíbles
beben discuten callan
argumentan valoran
pero cuando al final
del día se recogen
saben que la poesía
llegará / si es que llega
siempre que estén a
solas con su cuerpo y su alma
En: “Yesterday y
mañana” (1987)
O pub dos poetas
(Alexander Moffat:
pintor escocês)
Os poetas
Os poetas reúnem-se
em conferências
em saraus em prisões nas
antologias
uns colhem loas em
manuais famosos
outros são assediados
pela casta censura
os poetas abraçam-se
nos aeroportos
e seus tropos fazem
soar o alarme na alfândega
amiúde bocejam em
recitais dos outros
e presumem que no
próprio os amigos bocejem
os poetas instalam-se
nas feiras anuais
e carimbam as suas
assinaturas ilegíveis lado a lado
e ao concluírem a
faina muito lhes apraz
que os jovens ousados
e tímidos se aproximem
os poetas reúnem-se
em simpósios
pela paz, mas nunca a
conseguem
uns recebem prêmios /
outros críticas demolidoras
são uma minoria
casual e multiforme
seus melhores achados
são altamente discutíveis
estudos inclementes
revelam os seus andaimes
os analistas procuram
variantes / os poetas
costumam deixar
alguma para animar a roda
os poetas frequentam discotecas
e museus
têm poucas respostas
mas muitas perguntas
frugais ou
presunçosos / sociáveis à sua maneira
às vezes apaixonam-se
por musas incríveis
bebem discutem
silenciam argumentam avaliam
mas quando ao final
do dia se recolhem
sabem que a poesia
chegará / se é que chega
desde que estejam a
sós com seu corpo e sua alma
Em: “Yesterday e
amanhã” (1987)
Referência:
BENEDETTI, Mario. Los
poetas. In: __________. Antología poética. Introducción de Pedro Orgambide.
Selección del autor. 4. ed. 8. reimp. Madrid, ES: Alianza Editoral, 2017. p.
279-280.
❁

%20Moffat.jpg)
Nenhum comentário:
Postar um comentário