Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

D. H. Lawrence - Democracia

Numa visão crítica e provocativa, Lawrence, acercando-se do tema da democracia, expressa com mordacidade a sua rejeição tanto à burguesia endinheirada e desprovida de autenticidade, quanto à classe trabalhadora oprimida e resignada, pois que, tanto uma quanto a outra, perderam por completo a luz interior, a insuspeição, a dignidade.

 

A rigor, o poeta revela certa dualidade em sua posição política e social: de um lado, considera-se um democrata, porque valoriza a liberdade inata nos homens – representada metaforicamente como o sol que neles brilha –; e de outro, identifica-se como aristocrata em sua repulsa às pessoas de mente estreita, possessivas, sem fulgor próprio, imersas numa espécie de escuridão espiritual, as quais, a seu ver, sequer merecem existir.

 

J.A.R. – H.C.

 

D. H. Lawrence

(1885-1930)

 

Democracy

 

I am a democrat in so far as I love the free sun in men

and an aristocrat in so far as I detest narrow-gutted,

possessive persons.

 

I love the sun in any man

when I see it between his brows

clear, and fearless, even if tiny.

 

But when I see these grey successful men

so hideous and corpse-like, utterly sunless,

like gross successful slaves mechanically waddling,

then I am more than radical, I want to work a guillotine.

 

And when I see working men

pale and mean and insect-like, scuttling along

and living like lice, on poor money

and never looking up,

then I wish, like Tiberius, the multitude had only one head

so that I could lop it off.

 

I feel that when people have gone utterly sunless

they shouldn’t exist.

 

In: “Pansies” (1929)

 

A democracia está morta

(Ian Thuillier: artista irlandês)

 

Democracia

 

Sou democrata na medida em que amo o livre sol

nos homens

e aristocrata na medida em que detesto as possessivas,

tacanhas criaturas.

 

Amo o sol em qualquer homem,

quando o vejo na fronte,

claro, sem temor, ainda que frágil.

 

Mas, quando vejo os pardos homens prósperos,

hórridos e cadavéricos, inteiramente sem sol,

como obscenos escravos prósperos saracoteando-se

mecanicamente,

então sou mais que radical, desejo a guilhotina.

 

E quando vejo os que trabalham,

pálidos e vis como insectos, às corridas

e como piolhos vivendo, com dinheiro contado

e sem nunca erguer os olhos,

então, como Tibério, desejo que a multidão tivera

uma cabeça

para decepá-la de um só golpe.

 

Eu penso que, quando as gentes perderam totalmente

o sol,

não têm direito a existir.

 

Em: “Pensamentos” (1929)

 

Referências:

 

Em Inglês

 

LAWRENCE, D. H. Democracy. In: __________. The complete poems of D. H. Lawrence. Collected and edited with an introduction and notes by Vivian de Sola Pinto and F. Warren Roberts. 1st ed., 6th repr. New York, NY: Penguin Books, 1988. p. 526.

 

Em Português

 

LAWRENCE, D. H. Democracia. Tradução de Jorge de Sena. In: SENA, Jorge de (Antologia, tradução, prefácio e notas). Poesia do século XX: de Thomas Hardy a C. V. Cattaneo. Porto, PT: Editorial Inova, jul. 1978. p. 241-242. (Colecção “As mãos e os frutos”; v. 14)

Nenhum comentário:

Postar um comentário