Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Barbara Howes - Uma Carta do Caribe

Howes celebra a natureza e a arquitetura únicas do Caribe, capturando a essência da vida sob o sol tropical e a brisa constante em uma ilha qualquer do arquipélago, bem assim a capacidade da memória em preservar intactas as recordações do lugar, analogamente à persistência do vento e a intensidade com que o astro-rei resplandece na região – forças poderosas e onipresentes.

 

Nessa paisagem tropical, “filtrada e entrelaçada”, encontrar refúgio de permanência na lembrança é algo inusitado, afinal, nela reina a mais absoluta transitoriedade, a incessante mudança, como se a natureza sob um clima tórrido se dispusesse a mostrar toda a sua cambiante exuberância: é esse estado de fluxo e de impermanência atrelado às imagens retidas no recôndito da mente que perdura no espírito da falante, quando afirma que nada se perdeu ou se esvaiu pelos ares.

 

J.A.R. – H.C.

 

Barbara Howes

(1914-1996)

 

A Letter from the Caribbean

 

Breezeways in the tropics winnow the air,

Are ajar to its least breath

But hold back, in a feint of architecture,

The boisterous sun

Pouring down upon

 

The island like a cloudburst. They

Slant to loft air, they curve, they screen

The wind’s wild gaiety

Which tosses palm

Branches about like a marshal’s plumes.

 

Within this filtered, latticed

World, where spools of shadow

Form, life and change,

The triumph of incoming air

Is that it is there,

 

Cooling and salving us. Louvers,

Trellises, vines – music also –

Shape the arboreal wind, make skeins

Of it, and a maze

To catch shade. The days

 

Are all variety, blowing;

Aswirl in a perpetual current

Of wind, shadow, sun,

I marvel at the capacity

Of memory

 

Which, in some deep pocket

Of my mind, preserves you whole –

As wind is wind, as the lion-taking

Sun is sun, you are, you stay:

Nothing is lost, nothing has blown away.

 

Brisa do Oceano

(Sung Kim: artista sul-coreano)

 

Uma Carta do Caribe

 

As brisas nos trópicos crivam o ar,

Franqueiam-se ao seu menor sopro,

Embora retenham, num artifício da arquitetura,

O sol impetuoso

Que se derrama sobre

 

A ilha como uma tormenta de nuvens. Inclinam-se

Para elevar o ar, curvam-se, refreiam

A vibração selvagem do vento

Que agita os ramos das

Palmeiras como o penacho de um marechal.

 

Dentro desse filtrado e entrelaçado

Mundo, onde espirais de sombra

Tomam forma, vida e muda,

O triunfo do ar que se infiltra

Se comprova por lá estar,

 

A refrescar-nos e aliviar-nos. Persianas,

Treliças, videiras – também a música –

Moldam o vento arbóreo, urdem com ele

Meadas e um labirinto

Para capturar sombra. Os dias

 

São todos variedade, soprando;

Em vórtice, num fluxo perpétuo

De vento, sombra, sol,

Maravilho-me com a capacidade

Da memória

 

Que, nalgum recôndito nicho

Da minha mente, preserva-te incólume –

Como o vento é o vento, como o sol que toma o leão

Pela mão é o sol, assim és tu, pois permaneces:

Nada se perdeu, nada foi soprado para longe.

 

Referência:

 

HOWES, Barbara. A letter from the Caribbean. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 472-473.

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