Howes celebra a natureza e a arquitetura únicas do Caribe, capturando a
essência da vida sob o sol tropical e a brisa constante em uma ilha qualquer do
arquipélago, bem assim a capacidade da memória em preservar intactas as
recordações do lugar, analogamente à persistência do vento e a intensidade com
que o astro-rei resplandece na região – forças poderosas e onipresentes.
Nessa paisagem tropical, “filtrada e entrelaçada”, encontrar refúgio de
permanência na lembrança é algo inusitado, afinal, nela reina a mais absoluta
transitoriedade, a incessante mudança, como se a natureza sob um clima tórrido se
dispusesse a mostrar toda a sua cambiante exuberância: é esse estado de fluxo e
de impermanência atrelado às imagens retidas no recôndito da mente que perdura
no espírito da falante, quando afirma que nada se perdeu ou se esvaiu pelos
ares.
J.A.R. – H.C.
Barbara Howes
(1914-1996)
Breezeways in the tropics winnow the air,
Are ajar to its least breath
But hold back, in a feint of architecture,
The boisterous sun
Pouring down upon
The island like a cloudburst. They
Slant to loft air, they curve, they screen
The wind’s wild gaiety
Which tosses palm
Branches about like a marshal’s plumes.
Within this filtered, latticed
World, where spools of shadow
Form, life and change,
The triumph of incoming air
Is that it is there,
Cooling and salving us. Louvers,
Trellises, vines – music also –
Shape the arboreal wind, make skeins
Of it, and a maze
To catch shade. The days
Are all variety, blowing;
Aswirl in a perpetual current
Of wind, shadow, sun,
I marvel at the capacity
Of memory
Which, in some deep pocket
Of my mind, preserves you whole –
As wind is wind, as the lion-taking
Sun is sun, you are, you stay:
Nothing is lost, nothing has blown away.
Brisa do Oceano
(Sung Kim: artista
sul-coreano)
Uma Carta do Caribe
As brisas nos
trópicos crivam o ar,
Franqueiam-se ao seu
menor sopro,
Embora retenham, num artifício
da arquitetura,
O sol impetuoso
Que se derrama sobre
A ilha como uma
tormenta de nuvens. Inclinam-se
Para elevar o ar,
curvam-se, refreiam
A vibração selvagem
do vento
Que agita os ramos
das
Palmeiras como o
penacho de um marechal.
Dentro desse filtrado
e entrelaçado
Mundo, onde espirais
de sombra
Tomam forma, vida e muda,
O triunfo do ar que
se infiltra
Se comprova por lá
estar,
A refrescar-nos e aliviar-nos.
Persianas,
Treliças, videiras –
também a música –
Moldam o vento
arbóreo, urdem com ele
Meadas e um labirinto
Para capturar sombra.
Os dias
São todos variedade,
soprando;
Em vórtice, num fluxo
perpétuo
De vento, sombra,
sol,
Maravilho-me com a
capacidade
Da memória
Que, nalgum recôndito
nicho
Da minha mente, preserva-te
incólume –
Como o vento é o vento,
como o sol que toma o leão
Pela mão é o sol, assim
és tu, pois permaneces:
Nada se perdeu, nada
foi soprado para longe.
Referência:
HOWES, Barbara. A letter from the Caribbean. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to Reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 472-473.
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