Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Jorge Carrera Andrade - História Contemporânea

Andrade, poeta equatoriano, nos apresenta um vívido quadro da cidade contemporânea, com suas unidades fabris e estruturas urbanas muitas vezes caóticas, a configurar um microcosmo pejado de contrastes – onde se entrecruzam os ritmos da vida moderna e as realidades mais cruas do corpo social –, motivo por que ora nos fascina ora nos aterroriza.

 

Na visão do falante, a urbe conforma um espaço alienante e hostil, no qual as relações humanas se veem mediatizadas pelo trabalho, o consumo e a luta pela sobrevivência, daí porque as pessoas acabem por se isolar umas das outras, agarradas às suas próprias rotinas e preocupações.

 

Como corolário, o cenário urbano não poderia deixar de espelhar os efeitos dessa sociedade dividida e fragmentada, reflexo direto das desigualdades de renda, gerando um considerável contingente de marginalizados – sem-teto, mendigos, vagamundos –, mais ainda isolados, vulneráveis e excluídos quando sob a força implacável e opressora do aparelho repressivo do Estado.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jorge Carrera Andrade

(1903-1978)

 

Historia Contemporánea

 

Desde las seis está despierto el humo

que no cesa de señalar con su brazo la dirección del viento.

Los bancos conservan el sueño congelado de los vagabundos

y las vidrieras de los restaurantes aprisionan la calle

y la venden entre sus frutas, botellas y mariscos.

Un pájaro nuevo silba en las poleas

y en los andamios que cuelgan su columpio de los hombros

de los edificios.

Los chicos suman panes y luceros en sus pizarras de luto

y los automóviles corren sin saber

que una piedra espera en una curva la señal del destino.

 

Ametralladora de palabras,

la máquina de escribir dispara contra el centinela invisible

de la campanilla.

Los yunques fragmentan un sueño sonoro de herraduras

y las máquinas de coser aceleran su taquicardia de solteronas

entre el oleaje giratorio de las telas.

 

La tarde conduce un fardo de sol en un tranvía.

 

Obreros desocupados ven el cielo como una cesta de manzanas.

Regimientos de frío

dispersan los grupos de vagabundos y mendigos.

 

El vendedor de pescado, los voceadores de periódicos

y el hombre que muele el cielo em su organillo

se dan la mano a la hora de la cena

em las cloacas y bajo la axila de los puentes

donde juegan al jardín los desperdicios

y sacan la lengua las latas de conserva.

Sus sombras crecen más allá de los tejados puntiagudos

y van cubriendo la ciudad, los caminos y los campos próximos

hasta ahogar em su pecho el relieve del mundo.

 

En: “El tiempo manual” (1935)

 

O vendedor de frutas

(Jan Victors: pintor holandês)

 

História Contemporânea

 

Desde as seis está acordada a fumaça

que não cessa de apontar com o seu braço a direção do vento.

Os bancos preservam os sonhos congelados dos sem-abrigo

e as vitrinas dos restaurantes aprisionam a rua

vendendo-a entre as suas frutas, garrafas e mariscos.

Um pássaro novo silva nas polias

e nos andaimes que sustentam o seu balanço nos ombros

dos edifícios.

As crianças juntam pães e estrelas às suas lápides de luto

e os automóveis correm sem saber

que uma pedra espera numa curva o sinal do destino.

 

Metralhadora de palavras,

a máquina de escrever dispara contra a sentinela invisível

da sineta.

As bigornas fragmentam um sonho sonoro de ferraduras

e as máquinas de costura aceleram a sua taquicardia

de solteironas

em meio ao giratório ondular dos tecidos.

 

A tarde conduz um feixe de sol num bonde.

 

Trabalhadores desempregados veem o céu como um cesto

de maçãs.

Regimentos de frio

dispersam os grupos de vagabundos e mendigos.

 

O peixeiro, os vendedores de jornais

e o homem que mói o céu em seu realejo

dão-se as mãos à hora do jantar

nos esgotos e sob as axilas das pontes

onde os resíduos brincam no jardim

e as latas de conserva protraem a língua.

 

Suas sombras crescem para além dos telhados pontiagudos

e vão cobrindo a cidade, as estradas e os campos circundantes

até afogarem em seu peito o relevo do mundo.

 

Em: “O tempo manual” (1935)

 

Referência:

 

ANDRADE, Jorge Carrera. Historia contemporánea. In: JIMÉNEZ, José Olivio (Selección, prólogo y notas). Antología de la poesía hispanoamericana contemporánea (1914-1987). 4. ed. Madrid, ES: Alianza Editorial, 2015. p. 279-280. (“El libro de bolsillo”)

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