Andrade, poeta equatoriano,
nos apresenta um vívido quadro da cidade contemporânea, com suas unidades fabris
e estruturas urbanas muitas vezes caóticas, a configurar um microcosmo pejado
de contrastes – onde se entrecruzam os ritmos da vida moderna e as realidades
mais cruas do corpo social –, motivo por que ora nos fascina ora nos aterroriza.
Na visão do falante,
a urbe conforma um espaço alienante e hostil, no qual as relações humanas se
veem mediatizadas pelo trabalho, o consumo e a luta pela sobrevivência, daí porque
as pessoas acabem por se isolar umas das outras, agarradas às suas próprias
rotinas e preocupações.
Como corolário, o
cenário urbano não poderia deixar de espelhar os efeitos dessa sociedade
dividida e fragmentada, reflexo direto das desigualdades de renda, gerando um considerável
contingente de marginalizados – sem-teto, mendigos, vagamundos –, mais ainda isolados,
vulneráveis e excluídos quando sob a força implacável e opressora do aparelho
repressivo do Estado.
J.A.R. – H.C.
Jorge Carrera Andrade
(1903-1978)
Historia
Contemporánea
Desde las seis está
despierto el humo
que no cesa de
señalar con su brazo la dirección del viento.
Los bancos conservan
el sueño congelado de los vagabundos
y las vidrieras de
los restaurantes aprisionan la calle
y la venden entre sus
frutas, botellas y mariscos.
Un pájaro nuevo silba
en las poleas
y en los andamios que
cuelgan su columpio de los hombros
de los edificios.
Los chicos suman
panes y luceros en sus pizarras de luto
y los automóviles
corren sin saber
que una piedra espera
en una curva la señal del destino.
Ametralladora de
palabras,
la máquina de
escribir dispara contra el centinela invisible
de la campanilla.
Los yunques
fragmentan un sueño sonoro de herraduras
y las máquinas de
coser aceleran su taquicardia de solteronas
entre el oleaje
giratorio de las telas.
La tarde conduce un
fardo de sol en un tranvía.
Obreros desocupados
ven el cielo como una cesta de manzanas.
Regimientos de frío
dispersan los grupos
de vagabundos y mendigos.
El vendedor de
pescado, los voceadores de periódicos
y el hombre que muele
el cielo em su organillo
se dan la mano a la
hora de la cena
em las cloacas y bajo
la axila de los puentes
donde juegan al
jardín los desperdicios
y sacan la lengua las
latas de conserva.
Sus sombras crecen
más allá de los tejados puntiagudos
y van cubriendo la
ciudad, los caminos y los campos próximos
hasta ahogar em su
pecho el relieve del mundo.
En: “El tiempo
manual” (1935)
O vendedor de frutas
(Jan Victors: pintor
holandês)
História
Contemporânea
Desde as seis está
acordada a fumaça
que não cessa de
apontar com o seu braço a direção do vento.
Os bancos preservam
os sonhos congelados dos sem-abrigo
e as vitrinas dos
restaurantes aprisionam a rua
vendendo-a entre as
suas frutas, garrafas e mariscos.
Um pássaro novo silva
nas polias
e nos andaimes que sustentam
o seu balanço nos ombros
dos edifícios.
As crianças juntam
pães e estrelas às suas lápides de luto
e os automóveis
correm sem saber
que uma pedra espera
numa curva o sinal do destino.
Metralhadora de
palavras,
a máquina de escrever
dispara contra a sentinela invisível
da sineta.
As bigornas
fragmentam um sonho sonoro de ferraduras
e as máquinas de
costura aceleram a sua taquicardia
de solteironas
em meio ao giratório
ondular dos tecidos.
A tarde conduz um
feixe de sol num bonde.
Trabalhadores
desempregados veem o céu como um cesto
de maçãs.
Regimentos de frio
dispersam os grupos
de vagabundos e mendigos.
O peixeiro, os
vendedores de jornais
e o homem que mói o
céu em seu realejo
dão-se as mãos à hora
do jantar
nos esgotos e sob as
axilas das pontes
onde os resíduos brincam
no jardim
e as latas de
conserva protraem a língua.
Suas sombras crescem
para além dos telhados pontiagudos
e vão cobrindo a
cidade, as estradas e os campos circundantes
até afogarem em seu
peito o relevo do mundo.
Em: “O tempo manual”
(1935)
Referência:
ANDRADE, Jorge
Carrera. Historia contemporánea. In: JIMÉNEZ, José Olivio (Selección, prólogo y
notas). Antología de la poesía hispanoamericana contemporánea (1914-1987).
4. ed. Madrid, ES: Alianza Editorial, 2015. p. 279-280. (“El libro de
bolsillo”)
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