O poeta estabelece
conexões entre as três entidades que dão título ao poema, sugerindo que cada qual
pode ser uma forma de intensificar ou aprofundar a experiência que se tem das
outras duas, sobretudo quando equipara a poesia ao sexo, como se a expressão
poética fosse algo tangível, ou melhor, tivesse um corpo por meio do qual se
deslindasse a relação quase carnal entre os versos e o erotismo, relação essa que,
no caso, vem-lhe à mente quando sob o sol abrasador do Vale Central da Califórnia.
Ler poesia nesse cenário
escaldante leva o sujeito lírico a usufruir uma experiência íntima, quase
tátil, em que o prazer da leitura de múltiplos poemas resulta num desejo reiterado
e intenso por sexo. Afinal, o leitor/espectador não tem como permanecer
passivo, pois que ambos – sexo e poesia – demandam presença, participação e
resposta.
J.A.R. – H.C.
Hans Ostrom
(n. 1954)
Poetry, Sex, Heat
Reading poetry in
full sun,
Central-Valley
California blaze:
I liked that. Words
conjured images,
which melted into heat-mirages.
Reading
one poem made me want
to read
another. I binged,
sweated
as I read. Sex in a
stifling
room: I liked that.
To be
young and naked in a
hot dark room –
that was fine for us.
Poetry and sex
in summer heat: I
still
ponder the connections.
Poetry seemed to have
a body. Sex
insisted. Like a
difficult good poem,
it wanted something
from us.
Sex and poetry on the
Valley floor:
That’s what I wanted
then.
That’s what I was
for.
Pôr do sol na
Califórnia
(Karen Winters: artista
norte-americana)
Poesia, Sexo, Calor
Ler poesia em pleno
sol,
sob a luz intensa do
Vale Central da Califórnia:
regalava-me com isso.
As palavras evocavam imagens,
que se desvaneciam em
miragens de calor.
Ler
um poema dava-me
vontade de ler
outro. Embebedava-me
e transpirava
enquanto lia. Sexo
num quarto
abafadiço: regalava-me
com isso. Sermos
jovens e estarmos nus
num quarto quente e escuro –
isso se nos afigurava
ótimo. Poesia e sexo
no calor do verão: eu
ainda
pondero sobre eventuais
conexões.
A poesia parecia ter
um corpo. E o sexo
insistia. Como um bom
e difícil poema,
queria algo de nós.
Sexo e poesia nas
entranhas do Vale:
Era o que eu queria
então.
Era para isso que eu
ali estava.
Referência:
OSTROM, Hans. Poetry,
sex, heat. In: __________. The Coast Starlight: collected poems (1976-2006).
1st publ. Indianapolis, IN: Dog Ear Publishing, 2006. p. 72.
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