Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Hans Ostrom - Poesia, Sexo, Calor

O poeta estabelece conexões entre as três entidades que dão título ao poema, sugerindo que cada qual pode ser uma forma de intensificar ou aprofundar a experiência que se tem das outras duas, sobretudo quando equipara a poesia ao sexo, como se a expressão poética fosse algo tangível, ou melhor, tivesse um corpo por meio do qual se deslindasse a relação quase carnal entre os versos e o erotismo, relação essa que, no caso, vem-lhe à mente quando sob o sol abrasador do Vale Central da Califórnia.

 

Ler poesia nesse cenário escaldante leva o sujeito lírico a usufruir uma experiência íntima, quase tátil, em que o prazer da leitura de múltiplos poemas resulta num desejo reiterado e intenso por sexo. Afinal, o leitor/espectador não tem como permanecer passivo, pois que ambos – sexo e poesia – demandam presença, participação e resposta.

 

J.A.R. – H.C.

 

Hans Ostrom

(n. 1954)

 

Poetry, Sex, Heat

 

Reading poetry in full sun,

Central-Valley California blaze:

I liked that. Words conjured images,

which melted into heat-mirages. Reading

 

one poem made me want to read

another. I binged, sweated

as I read. Sex in a stifling

room: I liked that. To be

 

young and naked in a hot dark room –

that was fine for us. Poetry and sex

in summer heat: I still

ponder the connections.

 

Poetry seemed to have a body. Sex

insisted. Like a difficult good poem,

it wanted something from us.

Sex and poetry on the Valley floor:

 

That’s what I wanted then.

That’s what I was for.

 

Pôr do sol na Califórnia

(Karen Winters: artista norte-americana)

 

Poesia, Sexo, Calor

 

Ler poesia em pleno sol,

sob a luz intensa do Vale Central da Califórnia:

regalava-me com isso. As palavras evocavam imagens,

que se desvaneciam em miragens de calor.

 

Ler

um poema dava-me vontade de ler

outro. Embebedava-me e transpirava

enquanto lia. Sexo num quarto

abafadiço: regalava-me com isso. Sermos

 

jovens e estarmos nus num quarto quente e escuro –

isso se nos afigurava ótimo. Poesia e sexo

no calor do verão: eu ainda

pondero sobre eventuais conexões.

 

A poesia parecia ter um corpo. E o sexo

insistia. Como um bom e difícil poema,

queria algo de nós.

Sexo e poesia nas entranhas do Vale:

 

Era o que eu queria então.

Era para isso que eu ali estava.

 

Referência:

 

OSTROM, Hans. Poetry, sex, heat. In: __________. The Coast Starlight: collected poems (1976-2006). 1st publ. Indianapolis, IN: Dog Ear Publishing, 2006. p. 72.

Nenhum comentário:

Postar um comentário