Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 7 de setembro de 2025

Marcel Beyer - Vespa, venha

Beyer incursiona pela relação entre a linguagem e a experiência pessoal, empregando a metáfora de uma vespa, digo melhor, sua natureza intrusiva e capacidade de picar, convidando-a a vir até a sua boca para encetar transformações radicais em sua dicção, com o propósito de ir mais além das convenções e, desse modo, revitalizar o exercício de sua Lírica.

 

O poeta evoca as décadas de 80 e 90, bem assim a virada para o novo milênio, período durante o qual houve acerbas mudanças sócio-políticas na Alemanha, v.g., a reunificação do país e a consolidação do idioma como elemento-chave para a retomada do destino comum do povo germânico.

 

Estando o idioma no centro da linguagem poética, converte-se ele num recurso formidável para o poeta explorar tanto o seu interior quanto o exterior, para dar colorido, vitalidade e forma à sua identidade e para se conectar com os demais, aprofundando e revitalizando o seu discurso.

 

J.A.R. – H.C.

 

Marcel Beyer

(n. 1965)

 

Wespe, komm

 

Wespe, komm in meinen Mund,

mach mir Sprache, innen,

und außen mach mir was am

Hals, zeig’s dem Gaumen, zeig es

 

uns. So ging das. So gingen die

achtziger Jahre. Als wir jung

und im Westen waren. Sprache,

mach die Zunge heiß, mach

 

den ganzen Rachen wund, gib mir

Farbe, kriech da rein. Zeig mir

Wort- und Wespenfleiß, mach’s

dem Deutsch am Zungengrund,

 

innen muß die Sprache sein. Immer

auf Nesquik, immer auf Kante.

Das waren die Neunziger. Waren

die Nuller. Jahre. Und: So geht das

 

auf dem Land. Halt die Außensprache

kalt, innen sei Insektendunst, mach

es mir, mach mich gesund,

Wespe, komm in meinen Mund.

 

Vespas

(Friedrich W. Kuhnert: artista alemão)

 

Vespa, venha

 

Vespa, venha à minha boca,

faça-me língua, por dentro,

e por fora faça-me algo na

garganta, mostre ao palato, a

 

nós. Assim foi. Assim foram

os anos oitenta. Quando éramos

jovens, vivíamos no oeste. Língua,

faça a tramela quente, esfole

 

a goela toda, dê-me mais cor,

se meta ali dentro. Me mostre

afinco de vespa e palavra, sacie

o alemão às papilas gustativas,

 

a língua deve estar no interior. Sempre

em nesquik, sempre nas beiradas.

Esses foram os noventa. Foram

os nulos, anos dois mil. E: assim é

 

pelo país afora. Retenha a língua

exterior fria, por dento seja vapor

de inseto, sacie-me, cure-me,

vespa, venha à minha boca.

 

Referência:

 

BEYER, Marcel. Wespe, komm / Vespa, venha. Tradução de Douglas Pompeu. In: POMPEU, Douglas; LOTUFO, Marcelo; MELO, Tarso de (Orgs.). Poesia alemã hoje: uma pequena antologia (e-book). Vários poetas & Vários tradutores. São Paulo, SP: Goethe Institut & Edições Jabuticaba, [2020?]. Em alemão: p. 45; em português: p. 44.

Nenhum comentário:

Postar um comentário