Beyer incursiona pela
relação entre a linguagem e a experiência pessoal, empregando a metáfora de uma
vespa, digo melhor, sua natureza intrusiva e capacidade de picar, convidando-a
a vir até a sua boca para encetar transformações radicais em sua dicção, com o
propósito de ir mais além das convenções e, desse modo, revitalizar o exercício
de sua Lírica.
O poeta evoca as
décadas de 80 e 90, bem assim a virada para o novo milênio, período durante o qual
houve acerbas mudanças sócio-políticas na Alemanha, v.g., a reunificação do
país e a consolidação do idioma como elemento-chave para a retomada do destino
comum do povo germânico.
Estando o idioma no
centro da linguagem poética, converte-se ele num recurso formidável para o
poeta explorar tanto o seu interior quanto o exterior, para dar colorido,
vitalidade e forma à sua identidade e para se conectar com os demais, aprofundando
e revitalizando o seu discurso.
J.A.R. – H.C.
Marcel Beyer
(n. 1965)
Wespe, komm
Wespe, komm in meinen
Mund,
mach mir Sprache,
innen,
und außen mach mir
was am
Hals, zeig’s dem
Gaumen, zeig es
uns. So ging das. So
gingen die
achtziger Jahre. Als
wir jung
und im Westen waren.
Sprache,
mach die Zunge heiß,
mach
den ganzen Rachen
wund, gib mir
Farbe, kriech da
rein. Zeig mir
Wort- und
Wespenfleiß, mach’s
dem Deutsch am
Zungengrund,
innen muß die Sprache
sein. Immer
auf Nesquik, immer
auf Kante.
Das waren die
Neunziger. Waren
die Nuller. Jahre.
Und: So geht das
auf dem Land. Halt
die Außensprache
kalt, innen sei
Insektendunst, mach
es mir, mach mich
gesund,
Wespe, komm in meinen
Mund.
Vespas
(Friedrich W. Kuhnert:
artista alemão)
Vespa, venha
Vespa, venha à minha
boca,
faça-me língua, por
dentro,
e por fora faça-me
algo na
garganta, mostre ao
palato, a
nós. Assim foi. Assim
foram
os anos oitenta.
Quando éramos
jovens, vivíamos no
oeste. Língua,
faça a tramela
quente, esfole
a goela toda, dê-me
mais cor,
se meta ali dentro.
Me mostre
afinco de vespa e
palavra, sacie
o alemão às papilas
gustativas,
a língua deve estar
no interior. Sempre
em nesquik, sempre
nas beiradas.
Esses foram os
noventa. Foram
os nulos, anos dois
mil. E: assim é
pelo país afora.
Retenha a língua
exterior fria, por
dento seja vapor
de inseto, sacie-me,
cure-me,
vespa, venha à minha
boca.
Referência:
BEYER, Marcel. Wespe,
komm / Vespa, venha. Tradução de Douglas Pompeu. In: POMPEU, Douglas; LOTUFO,
Marcelo; MELO, Tarso de (Orgs.). Poesia alemã hoje: uma pequena
antologia (e-book). Vários poetas & Vários tradutores. São Paulo, SP:
Goethe Institut & Edições Jabuticaba, [2020?]. Em alemão: p. 45; em
português: p. 44.
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