Com dedicatória a Fernando
Sabino (1923-2004), escritor mineiro, autor da obra publicada em 1956 que dá
título ao poema, a voz lírica vai de encontro às suas próprias ansiedades e
emoções, enfrentando-as de frente com valentia e determinação, bem assim às suas
“irmãs”, a saber, a desesperança e a solidão: são elas um metafórico “bicho”,
cuja presença lhe é deveras familiar.
Aceitar a pressão
constante de tais sentimentos na vida quotidiana, tentando atenuá-la e até empregá-la
como matéria comburente para manter viva a chama de um empoderamento, capaz de
superar ameaças e opressões, medos e temores que, entrementes, toldam os céus de
um horizonte a trilhar.
J.A.R. – H.C.
Olga Savary
(1933-2020)
Encontro marcado
A Fernando Sabino
Olho o bicho de
frente:
não é bonito nem
feio,
me bota a pata no
peito,
me olha com
destempero.
Eu o espio cara a
cara
que dele não tenho
medo
embora seu nome seja
nada menos:
desespero.
Vamos, bicho, de mãos
dadas,
confrontar tuas
irmãs:
bom dia,
desesperança,
boa noite, solidão.
Seus monstros
(Christina Saarinen: artista
finlandesa)
Referência:
SAVARY, Olga. Encontro
marcado. In: __________. Coração subterrâneo: poemas escolhidos.
Posfácio de Laura Erber. 1. ed. São Paulo, SP: Todavia, 2021. p. 106.
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