Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 23 de março de 2025

João Guimarães Rosa - Paraíso Filosófico

Fundindo elementos da mitologia grega e da filosofia, num abrangente arranjo simbólico, este poema de Rosa pode ser apreendido como uma metáfora para a jornada do ser humano em busca de sabedoria, a tatear nas arestas da realidade material, de beleza fugaz e nem sempre transigente em se compendiar num conhecimento metodizado.

 

Para além do meramente terrenal, há aqueles que se empenham numa compreensão mais profunda do mundo, num saber esotérico que se desmede ao romper as lindes do cosmos, onde o tempo se detém para refletir a paisagem estática e sem vida, estéril e carente de vitalidade, quiçá um cenário alegórico para o vazio existencial em que imersos: contemplando o sol, buscam eles – no avançar da idade – a desejada iluminação ou a verdade última, plena de significado e de transcendência.

 

J.A.R. – H.C.

 

João Guimarães Rosa

(1908-1967)

 

Paraíso Filosófico

 

No jardim das Hespéridas, sem flores

na discrição dos tufos de folhagem,

passeiam passos Ientos

homens de túnica longa,

com o os magos da Rosa-Cruz.

 

Sob os pomos das luzes do Capricórnio aceso,

o relógio do tempo

há muito que parou, os dedos superpostos,

como o dia e a noite,

porque não há mais noite e nem dia...

 

Ar parado,

lagos vidrados,

e vasos,

muitos vasos,

vasos vazios...

 

Os anciãos perpassam

intérminos terraços,

com olhos tranquilos, olhos gelados,

de tanto olharem o sol.

E as mãos tateiam calmas,

com o se os dedos mergulhassem

a translucidez de uma água,

esculpindo

invisíveis e impossíveis formas novas...

 

Jardim das Hespérides

(Albert Herter: artista norte-americano)

 

Referência:

 

ROSA, João Guimarães. Paraíso filosófico. In: __________. Magma. Desenhos de Poty. 2. impr. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1997. p. 130-131.

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