Fundindo elementos da
mitologia grega e da filosofia, num abrangente arranjo simbólico, este poema de
Rosa pode ser apreendido como uma metáfora para a jornada do ser humano em
busca de sabedoria, a tatear nas arestas da realidade material, de beleza fugaz
e nem sempre transigente em se compendiar num conhecimento metodizado.
Para além do
meramente terrenal, há aqueles que se empenham numa compreensão mais profunda
do mundo, num saber esotérico que se desmede ao romper as lindes do cosmos, onde
o tempo se detém para refletir a paisagem estática e sem vida, estéril e
carente de vitalidade, quiçá um cenário alegórico para o vazio existencial em
que imersos: contemplando o sol, buscam eles – no avançar da idade – a desejada
iluminação ou a verdade última, plena de significado e de transcendência.
J.A.R. – H.C.
João Guimarães Rosa
(1908-1967)
Paraíso Filosófico
No jardim das Hespéridas,
sem flores
na discrição dos
tufos de folhagem,
passeiam passos Ientos
homens de túnica
longa,
com o os magos da
Rosa-Cruz.
Sob os pomos das
luzes do Capricórnio aceso,
o relógio do tempo
há muito que parou,
os dedos superpostos,
como o dia e a noite,
porque não há mais
noite e nem dia...
Ar parado,
lagos vidrados,
e vasos,
muitos vasos,
vasos vazios...
Os anciãos perpassam
intérminos terraços,
com olhos tranquilos,
olhos gelados,
de tanto olharem o
sol.
E as mãos tateiam
calmas,
com o se os dedos
mergulhassem
a translucidez de uma
água,
esculpindo
invisíveis e impossíveis
formas novas...
Jardim das Hespérides
(Albert Herter:
artista norte-americano)
Referência:
ROSA, João Guimarães.
Paraíso filosófico. In: __________. Magma. Desenhos de Poty. 2. impr. Rio
de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1997. p. 130-131.
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