Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 2 de março de 2025

Mário Cesariny - Em todas as ruas te encontro

O falante passa por uma experiência apaixonada e obsediante em sua busca pelo amor, tanto em sua alçada onírica quanto na realidade física, pautadas ambas por uma oposição entre “encontrá-lo” e “perdê-lo”, o que sugere uma relação turbulenta, marcada por presenças e ausências, ou mesmo proximidades e distanciamentos de seu objeto de desejo.

 

O desvanecimento da fronteira entre sonho e realidade acaba por ministrar uma atmosfera de certo modo surrealista ao poema, num ciclo reiterado, ao mesmo tempo de constância e de fugacidade, de procura tenaz por sua amada, mesmo diante da antevisão de que, encontrando-a, nada a impedirá de voltar a engolfar-se nas veredas de incógnitas cercanias.

 

J.A.R. – H.C.

 

Mário Cesariny

(1923-2006)

 

Em todas as ruas te encontro

 

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te perco

conheço tão bem o teu corpo

sonhei tanto a tua figura

que é de olhos fechados que eu ando

a limitar a tua altura

e bebo a água e sorvo o ar

que te atravessou a cintura

tanto, tão perto, tão real

que o meu corpo se transfigura

e toca o seu próprio elemento

num corpo que já não é seu

num rio que desapareceu

onde um braço teu me procura

 

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te perco

 

Rua sob chuva

(Jacques Volpi: pintor francês)

 

Referência:

 

CESARINY, Mário. Em todas as ruas te encontro. In: __________. Pena capital. Lisboa, PT: Contraponto, 1957. p. 31.

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