Às voltas com o processo
criativo e a expressão artística, o poeta evoca a conexão existente entre a
escultura e a escrita, formas de arte que se entrelaçam e se complementam na
coreografia entre matéria e pensamento, costumeiramente empregadas para dar
fisionomia humana ao mundo, de modo a expressar boa parte do potencial de
nossas capacidades sensoriais.
Com efeito, fundindo
elementos tangíveis e intangíveis, a mente do artista modela a matéria para exprimir
ideias e emoções: sua criatividade é um ato visceral, vital, em linguagem de
pedra ou de poesia – ali a desvelar a essência do corpóreo, aqui a tornar conspícuo
o coração das palavras –, em meio a um jorro de paixão que se pretende perdurável,
a transcender o tempo e as gerações.
J.A.R. – H.C.
Luigi Fontanella
(n. 1940)
Scolpire è scrivere
a Judith
Scolpire
è scrivere com
aggressione e passione
sul foglio marmo del
tempo:
scoprire
nelle vene del
calcare
il sangue caldo della
scrittura.
È così che il
linguaggio della pietra
come quello della
poesia
si scioglie
si divide
si articola
nella carne mobile e
fissa del pensiero.
Carrara, luglio 1981.
O Escriba
(Ludwig Deutsch:
pintor austríaco)
Esculpir é escrever
a Judith
Esculpir
é escrever com agressão
e paixão
sobre a folha mármore
do tempo:
descobrir
nos veios do calcário
o sangue quente da
escrita.
É assim que a
linguagem da pedra
como aquela da poesia
se dissolve
se divide
se articula
na carne móvel e fixa
do pensamento.
Carrara, julho de
1981.
Referência:
FONTANELLA, Luigi. Scolpire
è scrivere. In: __________. Stella saturnina: poesie (1979-1986). Roma,
IT: Il Ventaglio, 1989. p. 56.
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