Salinas advoga a
ideia de que o amor – esse sol que perdura com sua luz a distância – se renova
mediante a reiteração das palavras, as quais, ainda que soem idênticas,
revivescem a cada expressão ou proposição, transmitindo vida em profundidade e
emoções únicas, fazendo nascer novas estrelas no firmamento da alma.
Trata-se, obviamente,
de um recordatório de que – a despeito de tudo ser efêmero, precipitando-se na
fugacidade dessas palavras e estrelas –, o amor segue como um campo de força
que nos conecta ao universo, num coração em uníssono, para além das “línguas
dos homens e dos anjos”, a dar continuidade à sempiterna obra da criação.
J.A.R. – H.C.
Pedro Salinas
(1891-1951)
Presagios
41
Estas frases de amor
que se repiten tanto
no son nunca las
mismas.
idéntico sonido
tienen todas,
pero una vida anima a
cada una,
virgen y sola, si es
que la percibes.
Y no te canses nunca
de repetir las
palabras iguales:
sentirás la emoción
que siente el alma
al ver nacer a la
estrella primera
y al mirar que se
copia, según la noche avanza,
en otras estrellitas
de distinto brillar y
de alma única.
Y así al repetir esta
simple frase de amor
se van prendiendo
infinitas estrellas
en el pecho:
un mismo sol les
presta luz a todas,
el sol lejano que
vendrá mañana
cuando cesen
estrellas y palabras.
Sonhe seus sonhos e
alcance as estrelas
(Annie B.: ilustradora
inglesa)
Presságios
41
Essas frases de amor
que se repetem tanto
não são as mesmas
nunca.
Soam todas idênticas,
contudo
singular vida a cada
uma anima,
virgem e só, se podes
percebê-la.
E não te canses nunca
de repetir as palavras
iguais:
sentirás a emoção que
sente a alma
ao ver a estrela que
primeiro nasce
e ao vê-la
desdobrar-se, conforme a noite avança,
em outras estrelinhas
de distinto brilhar e
de alma única.
E ao repetires essa
simples frase de amor
se vão prendendo
infinitas estrelas em
teu peito:
um mesmo sol empresta
luz a todas,
o sol distante que
amanhã virá
quando cessem
estrelas e palavras.
Referência:
SALINAS, Pedro.
Presagios: 41 / Presságios: 41. Tradução de Anderson Braga Horta. In: HORTA,
Anderson Braga (Organização, seleção e tradução). Traduzir poesia.
Brasília, DF: Thesaurus, 2004. Em espanhol: p. 112; em português: p. 113.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário