Este é um dos vários
poemas redigidos pelo poeta norte-americano a mesmo título, cada qual com uma particularidade
que o torna singular: os versos infratranscritos revelam a dificuldade do falante
em autodefinir-se, talvez com receio de ser descoberto em eventual ausência do que lhe
seja genuíno, aparentando ser alguém que, de fato, não é.
Nos limiares da verdade
ou da revelação, ainda há muito desacerto e ocultamento, daí o clamor por uma
mão-guia providencial, não se sabe ao certo se de natureza transcendente, mas
que lhe seja como um recurso para atingir uma autêntica identidade ou autenticidade,
um “eu” em comunhão com o entorno, orientado por uma atmosfera de beleza e serenidade.
J.A.R. – H.C.
(n. 1935)
Self-Portrait
Someday they’ll find
me out, and my lavish hands,
Full moon at my back,
fog groping the gone horizon,
the edge
Of the continent
scored in yellow, expectant lights,
White shoulders of surf,
a wolf-colored sand,
The ashes and bits of
char that will clear my name.
Till then, I’ll hum
to myself and settle the whereabouts,
Jade plants and
oleander float in a shine.
The leaves of the
pepper tree turn green.
My features are
sketched with black ink in a slow drag
through the sky,
Waiting to be filled
in.
Hand that lifted me
once, lift me again,
Sort me and flesh me
out, fix my eyes,
From the mulch and
the undergrowth, protect me and
pass me on.
From my own words and
my certainties,
From the rose and the
easy check, deliver me, pass me on.
Autorretrato
Contemporâneo
(Tran Tuan: artista
vietnamita)
Autorretrato
Um dia vão
descobrir-me, e as minhas mãos pródigas,
A lua cheia às minhas
costas, a névoa a tatear o horizonte
perdido, a orla
Do continente traçada
em amarelo, luzes expectantes,
As espáduas brancas
da espuma do mar, uma areia cor de lobo,
As cinzas e os pedaços
de carvão que hão de resgatar
o meu nome.
Até lá, vou
cantarolar para mim mesmo e definir em que sítio,
Plantas de jade e
loendros flutuam num fulgor.
As folhas da
pimenteira tornam-se verdes.
Minhas feições
esboçam-se com tinta preta num lento
arrasto pelo céu,
À espera de serem preenchidas.
Mão que me ergueu uma
vez, ergue-me novamente,
Identifica-me e dá-me
corpo, fixa meus olhos.
Do húmus e da
vegetação rasteira, protege-me e
guia-me adiante.
De minhas próprias
palavras e das minhas certezas,
Da rosa e da falsa
segurança, liberta-me, guia-me adiante.
Referência:
WRIGHT, Charles.
Self-portrait. In: VENDLER, Helen (Ed.). Poems, poets, poetry: an
introduction and anthology / Constructing a self. Boston, MA: Bedford Books (A
Division of St. Martin’s Press), 1997. p. 208.
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