Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 13 de março de 2025

Ramón Mendoza Montes - Como pesam os mortos

O poeta e jornalista mexicano detém-se, neste poema, a comentar sobre o peso dos falecidos na vida dos vivos, explorando a ideia de como os mortos continuam a viver dentro de nós, influenciando o nosso existir, as nossas percepções e experiências quotidianas, ou ainda, de como as imagens de seu legado e memória são-nos suficientemente renitentes, entranhando-se amiúde nas gerações pósteras.

 

A referência aos heliotrópios, plantas que se viram para seguir o sol, sugere que, mesmo perante a escuridão e a morte, há uma tendência, inata e geral, de se voltar à vida e à luz, do que se depreende que a aludida influência dos mortos tem motilidade e viço, isto é, não é estática como se poderia presumir, pois que as nossas identidades individuais diluem-se num “continuum”, a se desdobrar dos antepassados aos seus sucessores.

 

J.A.R. – H.C.

 

Vinheta do Livro dos Mortos

mostrando o teste da Pesagem do Coração

(Arte egípcia)

 

Cómo pesan los muertos

 

Oh, cómo pesan los muertos

que van viviendo en nosotros,

que pisan con nuestros pasos

y miran con nuestros ojos.

 

¡Cómo me siento cansado

quando veo que no veo solo,

que todos los muertos miran,

conmigo, los heliotropos!

 

Este no ser sino imagen

de seres casi ruinosos

que se cayeron sabiendo

que brotarían em mi rostro.

 

Y este pensar que mañana

he de ver por otros ojos

estando siempre escondido

en las líneas de outro rostro.

 

Ilha dos Mortos: versão “Basileia”

(Arnold Böcklin: artista suíço)

 

Como pesam os mortos

 

Oh, como pesam os mortos

que vão vivendo em nós outros,

que pisam com os nossos passos

e miram com os nossos olhos!

 

Como me sinto cansado

ao ver que não vejo só,

que todos os mortos miram,

comigo, os heliotrópios!

 

Este não ser mais que imagem

de seres quase ruinosos

que se tombaram sabendo

que brotavam no meu rosto.

 

E este pensar que mais tarde

hei de ver por outros olhos,

estando sempre escondido

nas linhas de um outro rosto.

 

Referência:

 

MONTES, Ramón Mendoza. Cómo pesan los muertos / Como pesam os mortos. Tradução de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (Organização, seleção e tradução). Grandes vozes líricas hispano-americanas. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1990. Em espanhol: p. 348; em português: p. 349. (‘Poesia de Todos os Tempos’)

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