O poeta e jornalista
mexicano detém-se, neste poema, a comentar sobre o peso dos falecidos na vida
dos vivos, explorando a ideia de como os mortos continuam a viver dentro de
nós, influenciando o nosso existir, as nossas percepções e experiências
quotidianas, ou ainda, de como as imagens de seu legado e memória são-nos suficientemente
renitentes, entranhando-se amiúde nas gerações pósteras.
A referência aos
heliotrópios, plantas que se viram para seguir o sol, sugere que, mesmo perante
a escuridão e a morte, há uma tendência, inata e geral, de se voltar à vida e à
luz, do que se depreende que a aludida influência dos mortos tem motilidade e
viço, isto é, não é estática como se poderia presumir, pois que as nossas
identidades individuais diluem-se num “continuum”, a se desdobrar dos
antepassados aos seus sucessores.
J.A.R. – H.C.
Vinheta do Livro dos Mortos
mostrando o teste da Pesagem do Coração
(Arte egípcia)
Oh, cómo pesan los muertos
que van viviendo en
nosotros,
que pisan con
nuestros pasos
y miran con nuestros
ojos.
¡Cómo me siento
cansado
quando veo que no veo
solo,
que todos los muertos
miran,
conmigo, los
heliotropos!
Este no ser sino
imagen
de seres casi
ruinosos
que se cayeron sabiendo
que brotarían em mi
rostro.
Y este pensar que
mañana
he de ver por otros
ojos
estando siempre
escondido
en las líneas de
outro rostro.
Ilha dos Mortos: versão
“Basileia”
(Arnold Böcklin:
artista suíço)
Como pesam os mortos
Oh, como pesam os
mortos
que vão vivendo em
nós outros,
que pisam com os
nossos passos
e miram com os nossos
olhos!
Como me sinto cansado
ao ver que não vejo
só,
que todos os mortos
miram,
comigo, os
heliotrópios!
Este não ser mais que
imagem
de seres quase
ruinosos
que se tombaram
sabendo
que brotavam no meu
rosto.
E este pensar que
mais tarde
hei de ver por outros
olhos,
estando sempre
escondido
nas linhas de um
outro rosto.
Referência:
MONTES, Ramón
Mendoza. Cómo pesan los muertos / Como pesam os mortos. Tradução de Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda
(Organização, seleção e tradução). Grandes vozes líricas hispano-americanas.
Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1990. Em espanhol: p. 348;
em português: p. 349. (‘Poesia de Todos os Tempos’)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário