Entre a conformidade
social e a simulação performativa, o falante, num discurso sombrio, permeado
por manifesto tom irônico, retrata um domingo monótono e tedioso, em linha com
o que lhe vai em mente, dada a sua existência presumivelmente sem sentido ou, porventura,
a sua insatisfação com a vida.
Publicado
postumamente, este poema de Eliot revela a incapacidade do ente lírico em
encontrar significado ou em escapar dessa fatuidade social, dessa ausência de
espontaneidade na rotina mundana. Até mesmo a vida se lhe apresenta à espera
junto “à porta do Absoluto”, o que sugere estar “ansiosa” para chegar a termo, muito
embora a morte também lhe pareça fastidiosa e convencional.
O final aberto do
poema deixa o leitor com uma sensação de desencanto com a trama lânguida e insípida
da realidade quotidiana, em face da apatia e da desilusão que daí decorre, por
não se lograr alcançar algum tipo de teleologia mais cabal que dê conta das
razões pelas quais passamos pelo que passamos, dos motivos pelos quais os dias
cumulam-se nessa espécie de enredo agônico.
J.A.R. – H.C.
T. S. Eliot
(1888-1965)
Spleen
Sunday: this
satisfied procession
Of definite Sunday
faces;
Bonnets, silk hats,
and conscious graces
In repetition that
displaces
Your mental
self-possession
By this unwarranted
digression.
Evening, lights, and
tea!
Children and cats in
the alley;
Dejection unable to
rally
Against this dull
conspiracy.
And Life, a little
bald and gray,
Languid, fastidious,
and bland,
Waits, hat and gloves
in hand,
Punctilious of tie
and suit
(Somewhat impatient
of delay)
On the doorstep of
the Absolute.
In: “Poems Written in
Early Youth” (1967)
Home com chapéu,
luvas e bengala
(Nathan Oliveira:
artista norte-americano)
Spleen (*)
Domingo: este cortejo
satisfeito
De nítidas faces
dominicais;
Gorros, chapéus de
seda, conscientes
E repetidos encantos
que substituem
Nosso autodomínio
mental
Por essa
injustificada digressão.
Tarde, luzes – e chá!
Crianças e gatos na
alameda;
Tristeza incapaz de
reagrupar-se
Contra essa estúpida
conspiração.
E a vida, um pouco
calva e grisalha,
Lânguida, branda e
fastidiosa,
Espera, com luvas e
chapéu na mão,
Meticulosa de terno e
gravata
(Algo impaciente pelo
atraso),
Na soleira do
Absoluto.
Em: “Poemas Escritos
na Primeira juventude” (1967)
Nota:
(*). Por ser uma
palavra com substrato já suficientemente incorporado à Literatura – desde que
foi cunhada pelo poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), em meados do
século XIX –, Ivan Junqueira deixou-a de traduzir: descreve ela um estado de
melancolia, tédio e, quiçá, insatisfação com a vida, carente de uma causa bem definida.
Referência:
ELIOT, T. S. Spleen / Spleen. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Obra completa. Vol. I: Poesia. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Edição bilíngue: inglês x português. São Paulo, SP: Arx, 2004. Em inglês: p. 494; em português: p. 495.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário